A vida num segundo



Um segundo não é nada.

Quantas emoções estarão contidas num segundo?
Quantas vidas são tocadas num segundo? Quantas alteram o seu rumo? Quantas iniciam e se extinguem num segundo? Naquele segundo. Naquele pedacinho de nada que se revela tudo.
Um sonho ou um pesadelo terminam com um pestanejar. Num segundo. Quantas horas serão necessárias para o esquecer?
Um segundo é quanto basta para sorrir. Por quanto tempo perdurará aquela emoção?
Quantos sorrisos se transformam em lágrimas num segundo? Quantas lágrimas podem ser vertidas por segundo?
Num só segundo, o que pode transparecer de um olhar?
Quanto tempo levará esquecer uma bofetada sentida num segundo?
Por quantos segundos se ocupará a memória daquele segundo em que duas bocas se tocaram?
Quantas vezes numa vida o coração dispara num segundo?

Amo-te. Um segundo. Traí-te. Um segundo. És linda! Um segundo. Morreu. Um segundo.
Estou grávida! Um segundo. Odeio-te!! Um segundo. Sim! Um segundo. Fica... Um segundo.
Adeus. Um segundo.


Este Natal desejo que acordem os super-heróis!


Os anos vão passando, as vacas emagrecendo, os cintos apertando... mas passe a caravana ou não, Natal é Natal.
Chegado o Novembro, é altura de todos nós começarmos a apregoar a fatal inverdade "Este ano não há prendas!". É o já egrégio cântico pré-Natalício.
Facto é, que os ostentosos presentes do antigamente, transformaram-se em lembranças, em miminhos, em pequenas atenções... mas de ano para ano persistem, quanto mais não seja sob a forma de uma chinesice qualquer.

Já circula pelas diversas redes sociais o apelo para não alimentarmos as poderosas multinacionais. Façamos as nossas compras no pequeno comércio tradicional. Compremos as nossas prendas aos artesãos locais, à jovem que faz bijutaria para pagar os seus estudos, e degustemos os doces e salgados da vizinha que os faz para complementar os seus míseros (ou de outra forma inexistentes) rendimentos. Plenamente de acordo.
Mas nem seria eu se não permitisse à minha criatividade levar este conceito mais longe...

Pois eu resolvi que este ano a minha prenda para todos os meus amigos e familiares, será fazer deles pessoas generosas nesta ocasião... quer queiram quer não!
Confessa, tu precisas tanto do livro ou cd que eu te ía oferecer como eu preciso de mais uma inebriante vela perfumada, com aroma a chuva matinal da floresta amazonica...

Este ano o que te vou entregar será um deslumbrante postal feito por mim, onde lerás qualquer coisa como:

"Querido/a amigo/a, este natal lembrei-me de ti. 
O valor que iria despender na tua prendinha, entreguei-o à Associação X. 
Sei que ficarás feliz e te sentirás muito orgulhoso/a de tijá que na realidade a doação foi tua. 
Desejo-te um Santo Natal".

Estamos a entrar na quadra da magia, e todos podemos ser súper-heróis e envergar a roupagem de Pai Natal!
O catálogo da Generosidade é vasto, e eu ainda não fiz a minha lista, mas desde já vos deixo algumas sugestões, para fazer deste um Natal diferente!

I) Há uns tempos que pensas naquela ou naquelas associações que te tocam mais, que gostarias muito de apoiar, mas nunca tens condições para o fazer. Pega no orçamento que tinhas estipulado para as lembranças, e satisfaz essa tua vontade! Além do mais, é uma forma de não ultrapassares o dito orçamento, como invariavelmente te acontece...

II) Não sei se já reparaste, mas nos balcões dos ctt há durante todo ano artigos da Unicef à venda... São prendinhas engraçadas.

III) Nos centro comerciais, principalmente nesta altura, não terás dificuldade nenhuma em encontrar inúmeras bancas de associações em busca de donativos. Muitas delas até vendem artigos simbólicos, que poderás entregar aos teus amigos no Natal. Já têm qualquer coisa para desembrulhar... Basta que escolhas as causas que te interessa ajudar (Crianças, idosos, pessoas com limitações, adolescentes de risco, animais... infelizmente não falta quem precise de ajuda.)

IV) Nos hipermercados também há algumas acções a decorrer, umas mais divulgadas que outras, em que contribuis com X para uma causa, seja comprando um livro, um cd, ou até aqueles postais que dizem "Dei tanto para a associação tal"

V) Quantos de nós não temos amigos em dificuldades, que este ano não terão possibilidade de oferecer um presente de Natal aos filhos? Há cada vez mais pobreza envergonhada... Vamos romper tabus. Dá ao teu amigo um presente para que ele possa fazer o seu filho sorrir.

VI) Faz um bolo e oferece-o à tua vizinha, para que ela possa ter uma ceia de Natal com a família. Ou atreve-te a ir mais longe, e convida para cear com os teus aquele senhor idoso que mora na tua rua, que te viu crescer, e que está entregue a si mesmo, porque não tem ninguém ou simplesmente porque era um peso e foi negligenciado pela família...

VII) As tuas crianças não precisam de receber 30 mil brinquedos numa noite... Ensina-lhes desde já os valores da partilha e da generosidade. Mostra-lhes que nem todos os meninos têm as suas bênçãos. Pega em alguns brinquedos, nem que sejam aqueles que eles já não usam, e vai com eles entregá-los a uma instituição de crianças desfavorecidas.

VIII) Para que mantens no roupeiro aquele casaco que não usas há 5 anos?... Sabes que um agasalho pode significar a sobrevivência para alguém que dorme ao relento?... DÁ! Dá a quem precisa. Se tiveres coragem para isso, vai uma noite destas pelas ruas da tua cidade, e distribui por quem dará bom uso às tuas "recordações de quando eu tinha menos 10 anos e menos 10 kilos". Mete as coisas no teu porta-bagagens, e quando te cruzares com um sem-abrigo, em vez fingires que não vês, oferece-lhe uma peça de roupa. Se ele não precisar, serve de moeda de troca.

IX) Só tens fatos bons ou roupas de marca que já não te servem, e são "mal-empregados" para indigentes... Pois, tens razão, fazem muito mais falta às traças no fundo do teu armário... Mas escuta, sabes quantas pessoas há que precisam de um fato para ir a uma entrevista de trabalho e não podem comprar um? Talvez conheças mais do que pensas... Entrega em associações. Não sabes onde? Fica uma sugestão: Loja Solidária É Dado, da Cáritas. "O funcionamento é igual ao de qualquer loja de roupas, onde os utentes podem escolher as peças que pretendem, experimentá-las e, se gostarem, levá-las, o que confere dignidade acrescida à ajuda que lhes é proporcionada." 

X) Num registo muito positivo: Este ano também vou dar a mão àqueles que tiveram a coragem de querer ser felizes se lançaram num sonho! Merecem, além da minha admiração e palavras de encorajamento, o meu apoio efectivo, pelo que parte do meu orçamento também será para brindar à felicidade! Vou, por exemplo, adoçar a boca a alguém com um dos produtos da Agridoce.

XI) Estás triste e amargurado; não queres nem ouvir falar em Natal. A vida está dificil, e tens o coração negro porque este ano não tens mesmo possibilidade de oferecer nada a ninguém. Pensas tu...
Há quanto tempo não dizes aos teus amores: "Eu amo-te"?... Oferece um sorriso. Presenteia quem amas com um abraço apertado. Dá um beijo caloroso a quem te é querido. Coloca uma musica a tocar e dança com a tua companheira. Canta para o teu companheiro. Surpreende a tua mãe com uma visita para porem a conversa em dia. Tudo isto é gratuito, e é das melhores prendas que se pode dar e receber.

XII) Envia aos teus amigos uma mensagem única, tua. Pode não ser tão engraçada ou tão poética como aquelas que costumas receber e reencaminhar em massa todos os anos...
Mas será tua. Servirá para dizer a alguém:
"És importante na minha vida.
Hoje que é o dia da Família e do amor ao próximo, lembrei-me de ti."


Quis deixar-te aqui algumas ideias, mas haverá outras tantas formas de podermos realmente fazer deste Natal um momento verdadeiramente especial... Escuta o teu coração. Não o inundes de rancores e tristezas, não te entregues a lamurias, não lamentes o que não vais poder dar ou receber... Fazer o bem, simplesmente porque sim, e provocar com isso um sorriso, é das maiores bênçãos que conheço. E essa é uma capacidade que todos temos. É inata. Basta querermos.

Termino dirigindo-me aos meus amigos que habitualmente me incluem nos seus orçamentos...
Não és obrigado a concordar ou seguir nenhuma das minhas sugestões. Mas peço-te, do fundo do coração, que o faças pelo menos com o valor que me tinhas destinado. Fossem 2 ou 3 euros... Envia-me um sms a dizer "Já dei a tua prenda. Hoje paguei uma sopa e uma sandes a alguém que tinha fome." Ou "Hoje comprei fraldas para o filho da minha vizinha que está desempregada." Ou "Hoje alimentei um cão abandonado". Acredita que ficarei infinitamente mais feliz com essa mensagem do que com uns brincos ou um gel de banho de Aloe Vera...



Compras Solidárias (Site de pesquisa)

APAC - Associação Popular de Apoio à Criança



Pastéis de Safara



Esta história há-de acompanhar-me por toda a minha vida.
Já a partilhei com algumas pessoas, hoje apeteceu-me deixar o registo.

O meu pai era um homem guloso. Muito guloso. Nos últimos tempos da sua doença, todos os mimos que eu lhe pudesse dar... dava. Isso passava também, obviamente, por presenteá-lo com guloseimas. Entre elas, incluíam-se os deliciosos pasteis de safara, doce típico alentejano, de gila e ovo. Não são fáceis de encontrar, e também não são propriamente ao preço da chuva...
Além de guloso, o meu pai também foi sempre muito... digamos que zeloso com os gastos. Ora sempre que eu lhe levava os ditos pastéis, a conversa era a mesma:
- Oh filhota, pra que foste gastar tanto dinheiro? Não era preciso... - dizia ele com os olhos a brilhar e quase a salivar.
- Paizoca, deixa... É um miminho.
- Sim, mas não podes andar a gastar tanto em mimos. Há mimos mais baratos que eu também gosto.
- Vá, deixa isso. Não é todos os dias... Este é um miminho especial. Saboreia e não penses no resto.
A conversa era recorrente, já que felizmente os meus mimos também o eram.

Uns meses depois da partida do meu pai, extintos que estavam os meus cargos de enfermeira/assistente pessoal/secretária/motorista/handywoman e etc. e tal,  entendi que estava na hora de retomar o meu caminho, e isso passava obviamente por voltar a ter o meu espaço. - Aluguei um pequeno apartamento - o meu cantinho, há muito desejado.
Tendo de recomeçar do zero, muito há onde gastar... desde mobílias a cacarecos... tudo somado é um investimento considerável. Claro está, que nos tempos que correm, e para conseguir tudo o que precisava, montei em casa um verdadeiro Show-Room da Ikea, passo a publicidade.
Não obstante, perdi-me de amores por umas mesas de vidro extensíveis, lindíssimas, e tendo em conta que a casa não é muito grande, era a mesa perfeita para a minha sala. Escusado será dizer, que proporcionalmente à sua beleza, estava o seu preço... Era incomportável. Certo dia, entro numa loja para ver de candeeiros, e vejo uma dessas mesas. Com os pés mais simples e tal, mas muito bonita. Fui espreitar. Era menos de metade do preço das mais baratas que eu tinha encontrado. O coração disparou-me. Ainda estava com um desconto qualquer, por isso ficava mesmo com um preço fenomenal. Ainda assim, era uma soma considerável... Sou muito conscienciosa das minhas contas (sem dúvida por influência do meu pai), e aquilo para mim era sinal de alguma loucura... mas era mesmo o que eu queria! Gastei o soalho da loja, absorvida pelos discursos do anjinho e do diabinho confortavelmente instalados cada um em seu ombro, a promover um debate cada vez menos esclarecedor... Lá me decidi a comprar a mesa, como quem tira um penso rápido de puxão, pra não doer muito.
Claro que mal saí da loja - depois de passar o cartão na diabólica máquina que nos saca os tustos à laia de anestesia, para só sentirmos bem o efeito da acção na próxima consulta de saldos - comecei a questionar a minha compra...
Vinha eu perdida nos meus pensamentos - Ah! neste momento é relevante partilhar convosco que conduzo depressa. Bastante depressa. Tipo "bem fora dos limites-depressa". -  Vinha eu então consumida pela culpa e perdida nos meus pensamentos pela Ponte Vasco da Gama (epicentro das minhas actividades mentais e paranormais), "Ai meu Deus, tanto dinheiro por uma mesa... Ainda me falta comprar tanta coisa... Que disparate Maria Teresa! Ai paizoca, o que é que tu me dirias se aqui estivesses?? Eu sei que foi um capricho paizoca... Eu não precisava daquela mesa... Mas era uma excelente oportunidade. Não resisti..." quando passa por mim uma carrinha comercial (coisa estranha, já que eu conduzo realmente depressa!). Ultrapassa-me e coloca-se à minha frente. Surpreendida, olho melhor a super-carrinha branca, e os meus olhos batem num simples e modesto logo: "Pasteis de Safara".
Pensem o que quiserem... Facto é que não é vulgar eu ser ultrapassada por carrinhas comerciais. Facto é que vejo muitos carros com logos da PT, EDP, Prossegur, Molly Maid, transportadoras várias... mas nunca tinha visto, nem nunca mais tornei a ver uma carrinha com a inscrição "Pasteis de Safara".
Pensem pois o que quiserem... Eu sei que naquele dia, o meu pai me passou a mão na cabeça e me disse:
Deixa lá filhota... é um miminho.

_________

Com um agradecimento muito especial ao meu pai. Sou eternamente grata por todos os ensinamentos. Sou eternamente grata pelas vezes que me picavas em miúda, pela amizade que desenvolvemos à medida que eu crescia e nos compreendíamos melhor, por teres tido orgulho na mulher em que me transformei, pela cumplicidade imensa que criámos juntos, por te ter ao meu lado como o meu pilar, o meu bom-senso, o meu pé no chão, e acima de tudo, por ter sido a tua menina e por ter tido o privilégio de te retribuir em vida, cuidando e mimando-te tanto quanto me foi possível, meu menino grande.