10,9,8,7,...



Novos projectos e alguns desafios pessoais têm-me mantido afastada do meu cantinho.
Alguma preguiça também, confesso.
Traz-me de volta "aquela" altura do ano - reflexões, balanço do que foi, objectivos para o que será.

A preocupação de comer as doze passas sem me engasgar retira-me sempre alguma lucidez no momento de fazer os doze pedidos para o ano que está a nascer.
Achei por bem deixá-los aqui, para futura consulta, ainda longe da pressão das doze badaladas demasiado rápidas.
Claro que poderia, qual Miss Universo, desejar o fim da fome e a paz no mundo. E desejo.
Mas crendo que a mudança começa em cada um de nós, este ano desejo ser o melhor de mim, para dar o melhor de mim, e receber o melhor dos outros.

1) ACEITAR as minhas imperfeições e as dos outros.
2) RESPEITAR a minha verdade e todas as outras.
3) EVITAR julgar - a mim e aos outros. Tomar consciência quando o faço.
4) VALORIZAR a mim, aos outros, as conquistas, as alegrias, as pequenas bênçãos.
5) DESVALORIZAR o que não me traz nada de bom. O que não é realmente importante. O que não posso mudar. O julgamento dos outros. A ilusão de controlo. A seriedade excessiva.
6) AGARRAR as oportunidades. Ou criá-las. Arriscar. Acreditar. Investir.
7) ENCARAR os desafios. Avançar: bem ou mal, muito ou pouco - avançar. Sempre.
8) VIVER os meus valores e as minhas paixões.
9) PRIVILEGIAR os afectos e as emoções.
10) SENTIR. Seja o que for. Entregar-me. Vulnerabilizar-me. Continuar a preferir sofrer a não viver. E "aguentar-me comigo e com os comigos de mim", diria Fernando Pessoa. It's ok not to be ok. What's not ok is not to be. 
11) AGIR. Fazer acontecer. Porque sem acção o sonho não passa de sonho.
12) SER. Ser corpo, mente e espírito. Ser Espiritual, com todas as crenças (in)abaláveis e eternas dúvidas. Ser Humana, com toda a grandiosidade e fragilidade, com toda a sabedoria e ignorância, e todas as dualidades inerentes a esta condição efémera. Ser Mulher, em todo o seu esplendor, com toda a fascinante complexidade e simplicidade. Ser criança: viver o presente, saborear o momento, brincar, rir desmesuradamente, amar sem medo, ser pura e despudorada, espontânea e transparente, ser incansavelmente curiosa, ver tesouros no lixo, experimentar, tocar, abraçar, cantar, dançar, sorrir a um estranho, estar disponível e receptiva, chapinhar nas poças de água, beber água da chuva, descobrir novos mundos, inventá-los, lambusar-me de gelado no verão, passar horas no mar, derreter ao sol, fazer palermices só porque sim. Amar. E depois amar mais ainda.
Ser quem sou.

E nos dias em que tudo isto falhar, lembrar-me do primeiríssimo item da minha ambiciosa lista: aceitar as minhas imperfeições.

O MEU LEMA PARA 2014:







Onda gigante




Aproxima-se o segundo aniversário da data mais marcante da minha vida - a partida do meu pai para outros vôos.
Tendo pessoas ao meu redor a viver agora momentos de perda, senti o apelo de fazer esta partilha.

O momento mais doloroso para mim, estranhamente (ou não), não foi o próprio dia ou os dias seguintes.
Passado o choque de acordar com a notícia, recebida por telefone, pela voz de uma estranha, julgo que passei por um momento de dormência, algo mecânico.
Aquela voz e aquelas palavras ficaram impressas nas minhas memórias com tanta nitidez que, creio, jamais me abandonarão. A médica fez o seu impossível papel de me preparar o melhor que pode, até que eu, já bem desperta com aquela conversa que me parecia estúpida e demasiado enrolada para as 8h da manhã, lhe perguntei, exaltada:
- Sim, Dra., mas o meu pai está bem?
- Não.
- (Enchi o peito de ar e preparei-me para o impacto) O meu pai está vivo???
- Não. - Um não tão pequeno, quase inaudível, esmagou-me como se as colossais paredes do Grand Canyon me tivessem caído em cima. E logo a seguir um clique, a adrenalina mais intensa que alguma vez sentira tomou-me conta do corpo e entrei em modo ON. Era preciso avisar a minha mãe e a minha irmã, os familiares e amigos, tratar das formalidades no hospital, tratar dos preparativos para o funeral, receber as pessoas que começavam a chegar. Lembro-me de telefonemas. Muitos telefonemas, em que eu acabava a tentar confortar quem se encontrava do outro lado da linha. No meio de lágrimas descontroladas e dor, eu estava funcional.
Seguiram-se os inevitáveis rituais de velório e funeral, e apesar de muito dolorosos, senti-os como "normais". Era normal, expectável e aceite, o meu sofrimento, era normal o sofrimento dos restantes presentes. Todos tínhamos em comum a perda de alguém querido, e todos estávamos a viver aquele momento. O ambiente ao meu redor era congruente com a devastação que me consumia.

O pior momento veio depois, onde não o esperava, e lembro-me dele com precisão cirúrgica: a primeira ida ao supermercado. Quando as portas do centro comercial se abriram, o impacto em mim foi tão brutal que as pernas me falharam, senti-me a desmaiar. Aquela imensidão de gente, vozes, sons, cheiros e luzes bateu no meu corpo com a força de uma onda gigante.
O mundo continuava igual. E eu não estava preparada para isso. As pessoas continuavam nas suas vidinhas, nas conversas de circunstância, a tomar café ao balcão, a fazer compras, a passear pelos corredores dos centros comerciais. Aquilo chocou-me. Como podia o mundo continuar igual, quando o meu mundo tinha mudado para sempre?? Não o sabiam, aquelas pessoas?! Apeteceu-me gritar-lhes "Parem, seus idiotas!! O meu pai morreu! Parem de se rir e conversar uns com os outros como se nada fosse!"
O mundo continuava igual. E eu teria de aprender a viver neste novo mundo igual. Eu teria de voltar a fazer compras, a trabalhar, a falar com pessoas, e até a rir-me. Eu teria de continuar de pé, como um farol, a propagar a minha luz. Parecia-me impossível voltar a sentir-me luz. Sentia que se me risse, se ouvisse música, se me distraísse com um filme, se me divertisse com amigos, se me esquecesse da dor, por um minuto que fosse, estaria a trair o amor do meu pai; estaria a dizer-lhe: já te esqueci.
Levei algum tempo a aceitar que podia e devia ouvir musica. Mais tempo ainda até me rir sem culpa, sem vir o pensamento "o pai partiu, estás a rir-te de quê?!"
Mas o mundo continuava igual. E eu continuava cá. Não era mais a mesma, jamais o seria, mas encontrei forma de voltar a integrar este novo eu no mundo que, continuando igual, não tornaria a ser o que fora. Só tive de me dar algum tempo. O tempo necessário para compreender que viver plenamente a bênção de estar viva é a melhor forma de honrar quem amo, e celebrar a vida de quem comigo caminhou, me amou e me marcou.

Jamais se esquece a perda de alguém inesquecível.
Mas, mais importante que isso, e que aprendi depois, é que jamais se esquece a dádiva de uma vida que foi, e continuará a ser, marcante.
Jamais se perde um amor.





Queda Livre



Sem rede.
Sente cada passo. Respira - a cada passo. Sente, intensamente, com todo o corpo, cada pequeno passo. E avança. Avança titubeante na corda que a sustem. E sustem a respiração. Mas avança.
Sempre fora mulher de chão. Da segurança e da solidez do chão.
Odiava alturas e desafiar o vento. Fugia de tudo o que ameaçasse a estabilidade de dois pés bem cravados no solo.
Não sabe o que mudou. Por que artes e engenhos mudou. Magia ou bruxedo, cura ou maleita, milagre ou apocalipse, salvação ou perdição - desconhece em absoluto o que a transformou e o que lhe trará a transformação. Sabe que agora odeia o chão. Aborrece-a. Parece-lhe demasiado pequeno e desinteressante.
Do alto da corda, ainda que rodeada de névoa, alcança o que nunca vira de pés fincados na terra. E respira. Como respira melhor! Sente que cresceu uns bons vinte centímetros, desde que largou o peso que a enterrava no betão, e levitou para aquela corda a perder de vista.
Aqui os passos não são passos, são vitórias. Cada passo é uma conquista. Saboreada. Apreciada. Minuciosamente sentida por cada músculo. Aqui não há espaço para passos em vão. E nesta corda, só cabem os seus pés.
Não sabe onde a levará. Não sabe se ela tem fim. Ou se é para lá que quer ir. Talvez outra corda se cruze com esta mais adiante; e talvez essa outra a atraia. Talvez salte, um dia. Talvez desça tranquilamente; talvez caia abruptamente. Nenhum desses talvez lhe interessam agora. Por ora, avança. Tudo o que sabe, e tudo o que quer saber, é que põe um pé em frente do outro. E respira.
Talvez acabe por cair, em queda livre. Que seja. A tónica não está em "queda", mas em "livre".
Sem rede. E avança. Já não sabe caminhar no chão.






It's Magic!



A vida é mágica!
E tal como num número de magia, se passas o tempo todo a tentar perceber o que está por trás da ilusão... perdes o espectáculo!
Deixa-te envolver pela magia. Deixa-te fascinar por ela. Deslumbra-te. Vive-a.
Escuta, não tens de saber todos os porquês... A curiosidade e a busca de conhecimento são enriquecedoras... porquanto não te escravizem. Aceita que haverá sempre coisas que te transcendem. Nesta maravilhosa sala de espectáculos não haverá ninguém conhecedor de todos os "truques" e seu funcionamento. Não te agastes tanto.
A magia é linda. Se te interessa saber mais sobre ela, investiga-a. Mas não te esqueças de também lhe apreciar a beleza.
Enjoy the show!




Sinto? Que seja!



É comum encontrar este tipo de discurso motivacional pelas redes sociais. Eu própria partilho alguns. E este é maravilhoso! Se o conseguires sentir, não hesites em viver dia a dia, do lado da felicidade!
Com o que tenho aprendido, faço o possível por me focar no Agora e adoptar a filosofia "Só por hoje". E é realmente fantástico quando o conseguimos integrar na nossa vida.
Mas presta atenção: SE e QUANDO o conseguires SENTIR - verdadeiramente.

Acredito que cá andamos para experienciar emoções. E o bouquet de emoções é vastíssimo. Não serão todas "boas", ou melhor, nem todas serão agradáveis de sentir. Mas todas são legítimas, todas trazem experiência, crescimento e aprendizagem.
Se hoje te sentes triste, pois que seja! Se sentes raiva, que seja raiva! Amor, paixão, solidão, entusiasmo, angústia, esperança, desilusão, alegria, ciúme - permite-te sentir! Tudo na vida serve um propósito, e tudo acontece quando e como deve acontecer. Não há por isso emoções "erradas". Estás a sentir o que tens de sentir no momento. E está tudo certo. Observa a emoção que estás a sentir, e aceita-a. Todas elas fazem parte da vida e do teu processo; por muito feias que sejam (ódio, inveja, rancor, desdém): observa e aceita. E deixa partir. O reconhecimento da emoção é o que te permitirá resolver e transformar. Fingires, tentares soterrar os teus sentimentos, isso sim, irá bloquear-te e envenenar-te.

Lembra-te: A vida é um jogo em que cada um terá de encontrar as suas regras; perceber o que funciona para si. O que partilho contigo é, sempre, o que me serve a mim. Aproveitarás o que ressoar contigo. Ou não.
Actualmente, a minha postura em relação a emoções - positivas ou negativas - é esta: permitir-me sentir, não camuflar. Se estou feliz, estou feliz; se estou triste, estou triste. Se hoje me apetece pular e cantar, pulo e canto; se me apetece chorar e gritar, choro e grito. As emoções devem ser vividas e libertadas; não reprimidas. Todas elas.
A minha escolha não incide nas emoções que sinto, mas nas que quero alimentar ou não. E eu opto por não alimentar as que me colocam num estado de dor. Não me permito entrar num processo de vitimização, entregando-me a emoções que me causam mal-estar. Tento perceber a origem da emoção: de onde vem? O que a provocou? Porque estou a sentir isto? É justificado? Houve algum acontecimento, de que eu tenha consciência, que a tenha despoletado? - Se sim: Não posso mudar o que aconteceu, mas então o que posso eu fazer para mudar o que sinto em relação ao que aconteceu? Se não (e podes estar triste ou irritado sem perceberes porquê), das duas uma: ou simplesmente aceito que é o que estou a sentir e que há-de passar, ou, se me interessa perceber a origem, tento chegar até ela (pela meditação, por exemplo).

A experiência pessoal diz-me que sufocar as emoções não me trará nada de bom.
Somos formatados numa série de crenças: os outros não têm nada a ver com a minha vida; os meus sentimentos só a mim dizem respeito; não vou estragar o ambiente porque estou chateada,... Resumindo: devemos estar sempre bem.
Por isso respondemos sempre afirmativamente à pergunta da ordem "Tudo bem?", que é feita já com o pressuposto da resposta: "Tudo, e contigo?" - Nem paramos para ouvir a resposta. É mais uma saudação do que propriamente uma pergunta. Mas não tem de estar sempre "tudo bem". Não há mal nenhum em estares mal! Não tens de conter a tristeza, tal como não tens de conter a alegria! Tens direito a estar triste, aborrecido, magoado, frustrado, o que for. E se é certo que não tens de contagiar os outros com o teu mal-estar, também não tens de fingir para o mundo um bem-estar que não sentes! Os outros que sejam inteligentes e não se deixem contagiar pela tua tristeza ou mau humor!
Não me lixem, não há ninguém que esteja sempre alegre e bem disposto! Ser feliz não implica ser imune a momentos de tristeza.
Mas é esperado que estejamos sempre bem... E então forçamo-nos a isso. Esforçamo-nos por manter a aparência, e pior que isso, muitas vezes enganamo-nos a nós mesmos, fabricando um falso bem-estar. Queremos tanto estar bem, que acreditamos que se nos convencermos de que estamos, ficaremos. Optamos por silenciar a voz que nos diz "estou mal". E, mais uma vez: se isso funcionar para ti; fantástico! É perfeitamente possível mudar o sentimento mudando o pensamento! Afinal, o pensamento tudo cria. E digo-te que por vezes eu consigo fazê-lo. Mas nem sempre... Se o sentimento continua lá, e só estás a fingir que o mudaste... atenção a isso.

Quanto mais depressa te libertares de um emoção desagradável, melhor para ti. Investe nisso. Aceita, sente, resolve dentro de ti e segue em frente. Acredita: de nada te servirá uma ilusão de bem estar.
Voltamos sempre ao mesmo: vive a tua verdade! Ri, chora, abraça, dança, descabela-te! Sente!! Sente tudo o que sentires!








A verdade, toda a verdade, e nada mais que a verdade



A tua verdade é o teu centro. Jamais encontrarás o teu centro fora de ti.
No fundo, esta é a base do teu bem estar. Sem identificares as tuas verdades não saberás quem és, andarás eternamente à deriva, e serás sempre um seguidor das verdades dos outros.


Numa discussão com um amigo sobre "a ordem natural das coisas", ele resolve contar-me um episódio ilustrativo: Quando mudara de casa, não tinha dinheiro para comprar uma aparelhagem "à séria". Então foi comprando CDs. Quando conseguiu comprar finalmente a aparelhagem dos seus sonhos, tinha uma colecção de 600 CDs.
Isto só aumentou o saudável debate, porque para mim aquilo era completamente absurdo! No lugar dele, eu teria comprado uma aparelhagem inferior para poder ir ouvindo os CDs que comprava, ou em vez de comprar CDs, teria juntado dinheiro para a aparelhagem dos meus sonhos. Aquilo apresentava-se-me como uma falta de lógica absoluta! Até porque ele continuaria a comprar CDs, e provavelmente acabaria por nunca ouvir os 600 que entretanto juntara!
Escusado será dizer que foi uma daquelas discussões em que acabámos por concordar em discordar. Qual de nós estava certo?! Os dois! Ele fez o que fazia sentido para ele, e eu teria feito o que me fizesse sentido.
Imaginemos que um amigo comum - um seguidor - se vê privado da sua aparelhagem e todos os CDs.
Ele ouviria as nossas duas versões, somava-lhes as opiniões de mais uns quantos amigos, e ficaria completamente perdido, sem saber qual a opção certa. Entregue à dúvida, nem aparelhagem nem CDs!

A indecisão inibe a acção. A incapacidade de reconheceres a tua verdade bloqueia-te; impede-te de agires. E a única coisa que importa perceber, é que não há uma opção certa; há a opção certa para ti. A resposta, só a encontrarás dentro de ti. Enquanto continuares à procura fora de ti, o mais provável é que aconteça uma de duas coisas: Ou a procuras só numa outra pessoa (namorada/o, irmã/o, amiga/o, Mestre,...) e adoptas a verdade dessa pessoa como tua; ou procuras aconselhar-te com todas as pessoas da tua confiança, e como cada uma terá a sua verdade, darás por ti preso em eternas dúvidas, a tentar perceber qual dos teus amigos estará certo.
Questionarmo-nos é positivo. Petrificarmos na infindável busca da resposta perfeita pode ser devastador. É que ela não existe... o que é perfeito para mim, não será para ti; e o que é perfeito hoje, deixará de o ser amanhã.

Eis algumas das minhas verdades sobre a minha verdade (daquelas que eu faço questão de me ir relembrando, nem que seja à força de bélinhas e beliscões):
  • A minha verdade é minha. - Ela serve-me a mim e só a mim. Ela faz-me feliz; não é uma fórmula universal de felicidade.
  • A minha verdade acompanhará a minha evolução. - Se eu sou um ser em constante transmutação, também a minha verdade mudará em função das minhas vivências e do meu crescimento.
  • Devo aceitar todas as minhas verdades, como parte integrante da grande verdade que sou Eu.
  • Posso e devo escutar as verdades dos outros, respeitá-las, e retirar delas o que me fizer sentido. 
  • Posso e devo partilhar as minhas verdades com os outros. Devo aceitar que os outros, tal como eu, só reterão das minhas verdades aquilo que lhes fizer sentido.
Isto pode ser mais complicado do que parece (daí que eu de vez em quando ainda tenha de me beliscar).
Mesmo para quem já tem alguma consciência do ego, do julgamento, do livre arbítrio; mesmo para quem já abdicou de ser dono da razão.
Ainda que movidos pela melhor das intenções, caímos frequentemente na tentação de impor a nossa verdade. Porque somos seres de afectos, e é muito difícil desapegarmo-nos completamente da "preocupação" com os que amamos. E se estamos bem e os vemos mal... a mente diz-nos que eles devem seguir as nossas pisadas, para que também eles fiquem bem. Um pouco como um pai financeiramente bem sucedido faz tudo para que o filho siga a sua profissão. Tudo em nome da felicidade de quem amamos!
Mas é aqui que tenho de fazer um esforço consciente para me lembrar das minhas verdades: "A minha verdade é minha. - Ela serve-me a mim. Ela faz-me feliz; não é uma fórmula universal de felicidade." É um erro tentar salvar os outros com a minha verdade. Ainda que bem intencionado, mas sempre um erro.


As minhas sugestões:

A ti, eterno angustiado:
Em caso de dúvida questiona-te: O que me faz sentido? Só quando conheceres as tuas verdades saberás quem és, e só aí saberás para onde ir. Até lá, continuarás paralisado, incapaz de agir, de concretizar, de viver. Pára de buscar orientação nos outros. Escuta-te. Não te deslumbres com a sabedoria alheia; a tua é-te tão ou mais valiosa. Só quando desistires de te perderes nos outros poderás encontrar-te em ti.

A ti, que já estás no teu caminho:
Lembra-te: esse é O TEU caminho. Dar a conhecer uma verdade é diferente de impô-la. E ajudar nem sempre implica mostrar caminhos; por vezes a melhor ajuda é simplesmente sairmos da frente, pararmos de atirar com as nossas arrogantes certezas, e deixarmos que o outro encontre o seu próprio trilho.
E aceitar que ele pode não escolher a direcção que se nós pudéssemos (ah, se pudéssemos!) escolheríamos para si.







Dominó



Para quem ainda não entendeu a história do efeito borboleta, para quem é resistente à ideia de unicidade, para quem acha que isso de "gentileza gera gentileza" é uma balela pegada... fica uma explicação muito simples de como as nossas acções têm repercussões muito além do nosso conhecimento.
Consideremos o exemplo:

Eu acordo de mau humor, e só porque sim, crio uma discussão com o meu marido. Eu vou à minha vida a destilar irritação por onde passo, e o meu marido, igualmente chateado, arranja forma de criar uma discussão fortuita com o colega. O colega tinha reunião com um cliente: venda quase certa - mas, agora, também irritado, não lhe apetece ceder a algumas condições e perde a venda. O cliente, que estava a contar com um bom negócio, fica danado e aproveita a hora do almoço para extravasar a frustração no dono do restaurante. O dono do restaurante fica abespinhado e vá de descarregar na cozinheira, que não tinha nada a ver com o assunto, mas por acaso é a primeira pessoa que cruza o seu caminho.  A cozinheira, para não perder o emprego cala-se, mas chega a casa angustiada e quem paga a conta é o filho. O filho tinha um exame nessa noite, e perturbado com a injustiça da mãe, não consegue concentrar-se e chumba.

Eu conheço o colega do meu marido? Não. Mas se calhar custei-lhe uma venda. 
Para não te cansar, que sei que és inteligente: Eu conheço o filho da cozinheira que trabalha no restaurante do homem onde foi almoçar o cliente do colega do meu marido?! Não. Mas o meu comportamento estragou-lhe a média.
Se eu tivesse feito amor com o meu marido naquela manhã, provavelmente o colega do meu marido tinha feito um negócio bom para ele, para a sua empresa e para o cliente. E talvez o miúdo tivesse tido boa nota no exame!

Se te estás a por na minha pele e pensas "Estou-me marimbando para o miúdo.", eu posso avançar um pouco mais na história para te dizer que o pai dele, que ficou danado porque o filho chumbou, talvez seja o polícia que apanhas amanhã na operação stop, o condutor do autocarro que leva a tua filha para a escola, o funcionário da câmara que precisas que agilize o teu processo...
Já percebeste? É que se estamos todos conectados, e se todos influenciamos e co-criamos a realidade, o que tu lanças ao Universo, a ti retornará. Porque se estamos todos conectados, todos somos um. E se todos somos um, o que fazes aos outros, estás no fundo a fazer a ti mesmo. Curioso, não é?!
E assim, já te importas com o miúdo, hum?...

Estamos todos conectados. Todos! E as nossas acções influenciam todo o universo. 
Então tem mais atenção às tuas acções, porque qual epidemia descontrolada, elas vão afectar muito além da tua consciência. São as nossas acções, de todos nós, juntas, que criam um mundo melhor... ou pior. O universo é um reflexo de todos nós, e tudo começa em cada um de nós. Faz a tua parte. Decide em que mundo queres viver, e semeia o que queres receber.
Sorri mais. Sê tolerante. Dá os bons dias. Sê gentil. Lembra-te que o desgraçado do miúdo até estudou para o exame e não tem culpa nenhuma que tenhas acordado de mau humor...





38 Reveillons


Ora 38 já cá cantam!
O balanço é seguramente positivo, e estou certa que tirado a químico de tantos outros milhares de balanços por este mundo fora:
Dores, alegrias, muitas cabeçadas, algumas doses de saudáveis loucuras, escolhas muito boas, menos boas e péssimas. Aprendizagem. Muitas lágrimas, ainda mais sorrisos - pelo menos, assim a memória arquivou. Amores que vão, amores que ficam. Pessoas que marcam, fiquem ou não. Pessoas que ficam, estejam ou não.
Tenho amigos. Bons amigos. E pela primeira vez tenho-me a mim, e essa foi sem dúvida a minha maior conquista. E agora que me descobri, tudo farei para que eu me mantenha sempre a minha maior paixão. Sim, porque paixões tenho várias, sempre tive. Sou uma apaixonada, e este estado é condição obrigatória para me sentir viva.
Já amei muito; creio que nunca odiei. Já fui muito amada, algumas vezes maltratada. Aos 38 sinto-me, acima de tudo, uma abençoada.
O corpo começa a revelar alguns sinais de que os enta estão logo ali, a mente dá provas de alguma maturidade e sabedoria que só o tempo traz, e o espírito sente-se um teenager, cheio de vitalidade, curiosidade e sede de explorar todo um universo que começa agora a conhecer.
Os Astros dizem-me que o mês trará um novo ciclo, com novas ideias, e muita energia para as concretizar. Os números dizem que o ano será de grandes conquistas, oportunidades e produtividade. As cartas falam-me em escolhas. E todas as células dos meus corpos me gritam que viva a minha verdade!
Sei que estou no meu caminho. E cheira-me a Felicidade...



"You" being ME and all my loved ones





Liberta-te, porra!



Não me apetece escrever sobre a inigualável revolução, os homens de Abril, ou a liberdade de um povo. Muito menos me apetece fazer o contraponto com a realidade portuguesa, 39 anos depois.
Tomo a liberdade de falar, sim, de Liberdade.

"Liberdade, liberdade - porque fugiste de mim?"

Não, não foi ela que te fugiu. Pára lá de culpar os outros... Foste tu que a enterraste, lembras-te?
És tu que a soterras em convenções e proibições. Os grilhões, esses que acusas o mundo de te colocar, és tu quem os forja, no fogo do medo.
Afrouxa a gravata que te sufoca. Atreve-te a inspirar profundamente. Respira. Respira-te.
Despe a saia travada que te impede de dar passada. Atreve-te a dar um passo maior, confiante. Confia. Confia em ti!

A liberdade do povo tem de começar na liberdade do indivíduo. Na minha, na tua. Esta é a revolução necessária e urgente. Premente. Patente. Ela está aí. Abraça-a.
Tu que defendes com veemência direitos alienáveis, entende que fundamental, mesmo, é libertares-te de ti mesmo.
Liberta-te, porra!




A uni(ci)dade da laranja


A história das duas metades da laranja é bonita, é poética, mas eu não a compro. Uma metade mais uma metade, serão sempre duas metades.

O busílis da questão está nas palavras “completar” versus "complementar". Não busques quem te complete, mas quem te complemente. Duas laranjas têm muito mais sumo do que duas metades. - Ou, na versão romanceada, duas laranjas têm muito mais sumo do que uma.
Todos precisamos de outras laranjas para encher o jarro. O que devemos entender, é que não dependemos em absoluto de uma. Há muitas laranjas na laranjeira onde estamos, e muitas mais no imenso pomar de que fazemos parte. Dependeres da que está ao teu lado, acreditares que só és feliz enquanto estiverem as duas no mesmo ramo, é limitares-te e fragilizares-te a ponto de cair ao chão se ela apodrecer.

Repara, se a tua felicidade depende de um amor, uma família, uma carreira, uma casa, ou seja lá o que for que achas que te completa e te faz feliz, se essa metade te falta, ficas sem chão. Voltas a ser metade, e uma metade não sobrevive. Precisas rapidamente de encontrar outra metade (ou vários gomos, rodelas, o que for) que a substituam, pra voltares a respirar. Se fores inteiro, a estrutura abana, claro, mas não cai por terra.
O problema é que é muito mais difícil encontrarmos a nossa outra metade em nós mesmos. É uma caminhada a um, e a maior parte de nós não sabe estar sozinho, e confunde o estar só com solidão. Porque, lá está, no inicio da jornada, até te encontrares, sentes-te metade. Mas vale a pena aprenderes a caminhar sozinho; vale mesmo a pena descobrires-te - descobrires, aceitares e acarinhares a laranja completa que tu és. Vale mesmo a pena aprenderes a amar-te e seres feliz a sós contigo.
Depois vem a segunda parte do desafio, a meu ver mais difícil ainda: Entregares-te a quem te complementa, sem medo de te voltares a perder. Esse equilíbrio é extremamente difícil, porque depois de te solidificares, tens receio de deitar tudo a perder - não queres voltar a sentir-te uma metade. E amares alguém sem te perderes, sem te entregares, não faz sentido!
Acima de tudo, o equilíbrio estará em não ter medo de nos desiquilibrarmos de vez em quando. Ninguém é totalmente equilibrado se não deixar entrar o desequilíbrio na sua vida.

Nas palavras do sábio Ketut, em Comer, Orar e Amar:  Sometimes, to loose balance for love, is part of living balance in life".  




Metamorfose


A partir daquele momento, no seu peito, bateriam dois corações. Para sempre.
Dispararam descompassados quando se encontraram e se fundiram.
Sentiu que as suas mãos eram demasiado grandes e desajeitadas para albergar tamanha fragilidade. Invadiu-o um medo petrificante, a primeira vez que lhe pegou, e pôde sentir o seu cheiro. E se te magoo? E se faço algo errado? E se não tomo as decisões certas? E se não gostares de mim? E se te perco? A magia embrulhada naquele minúsculo pedaço de pano logo o serenou - Calma... está tudo bem. Repara que já batem em uníssono. - e a agitação deu lugar a uma paz nunca antes sentida, até então inimaginável. Não, está tudo perfeito.

- Sabes, provavelmente vou fazer muitos disparates. É possível que às vezes te desiludas comigo, mas prometo-te que tentarei não o fazer. Tu nunca o conseguirás, por muito que te esforces. Sei que sentirás, em alguns momentos pelo caminho, que eu não gosto de ti - asseguro-te: será mentira. E estou certo que de vez em quando irás esbracejar de raiva por mim. Quero que saibas que não faz mal.  Mesmo que um dia ou outro sintas que não me amas, o meu amor é tão grande que chegará para os dois. Nunca largarei a tua mão. Mesmo quando tiver de te deixar cair. E acredita, os teus joelhos esfolados, farão os meus arder em carne viva. Mesmo quando te parecer que estou contra ti, estarei sempre, incondicionalmente, a fazer o meu melhor para cumprir este novo cargo que hoje assumo: ser o teu anjo da guarda. Não entendo bem o que aconteceu, que fenómeno é este, que fenómeno és tu, mas em três minutos transformaste-me. Fazes-me querer ser melhor.




Amo-te. Perdoa-me.


Não posso respirar por ti. Não posso querer viver por ti. Lamento, mas não posso. Ou já nem sei se lamento. Sei que não posso, nem pode ninguém.  
Já vivi demasiadas vezes a tua vida. Já deixei demasiadas vezes de viver a minha.
Entrego-te nas tuas mãos. Mesmo que isso me custe, te custe, e nos custe a tua vida. É uma jogada arriscada, eu sei. Mas o que temos de perceber, o que temos mesmo de conseguir perceber de uma vez por todas, é que é um risco teu; não me compete ir a jogo com as tuas cartas. Temos de o aceitar, e temos de arranjar forma de nos perdoar. Chega de bluffs.
Este meu querer, desesperado e impotente; este meu desejo de manter viva a tua vida, seja por amor, retribuição, premonição de culpas ou simplesmente por medo de te perder, não te traz de volta à vida. Só alimenta a ilusão que tu vives, enquanto vives através de mim. Já te perdi. Pior, já te perdeste.
O meu balão de oxigénio já não chega para manter duas vidas... e estou cansada de arrastar duas meias vidas. Faltam-me as forças, e (em verdade) a vontade de te forçar a querer o que eu queria que quisesses. É tempo de eu querer viver a minha vida. E é tempo de tu quereres... o que quiseres.
Desligo o botão. Corto o cordão umbilical. Não vou continuar a ser o teu suporte de vida. Não quero mais que suportes a vida à força do meu sopro. Quero que queiras viver. Quero muito que queiras viver. Mas não posso querer viver por ti.
Pérfido que te pareça, esta é a maior prova de amor que te posso dar: Liberto-te. Liberto-nos. É teu o poder de regressar a ti e a nós. Ou não. Amar-te-ei sempre.
Eu escolho viver. Com esperança que me perdoes e me ames por isso.




Amanhã volto.



Domingo nublado. O ócio aninha-se sem cerimónia, e eu anicho-me na imagem desfocada que me entra pela janela. Sonho com o sol que não chegou a nascer. Levito na neblina cor-de-rosa que adoça e suaviza tudo o que seria. Sinto saudades do que poderia ser. Morro de saudades do que teria sido - se.
Sinto falta do amanhã. Arrepiam-me os lábios que não beijei. Pesa-me o ventre nunca habitado. Dói-me o sorriso que não rasguei. Atormenta-me a perfeição quimérica latente no teu se.
Refém voluntária das promessas que todos os ses encerram, dou a última passa no cigarro, e deixo-me ir junto com a fumaça, que sai do meu corpo e se afasta de mim num sopro, indefinida, sem rumo nem rédeas. Deixo-me ir com ela, suspensa no tempo onde sobra tempo... Afinal, hoje é domingo. Amanhã por esta hora já a modorra terá feito check out, levando consigo todos os peçonhentos ses.






No trilho da Aranha

A Teia da Aranha, por R.B. Morgan Photography 

"Se abrirmos os olhos e levantarmos a cabeça enquanto vagueamos pelas ruas perceberemos que não somos os únicos seres enclausurados nos nossos pensamentos. Perceberemos que o isolamento a que cada um de nós - peões perdidos na charada de algo muito mais vasto – se entregou, está muito próximo daquilo que sempre tememos. A solidão, o labirinto de medos e anseios que passamos os dias a tentar esconjurar, o inferno de uma cabeça repleta de coisas para fazer, de contas para pagar, de justificações a dar, de soluções a rapidamente encontrar. Corremos desvairados para os braços do destino de que fugimos a sete pés. Mas o diabo está lá, na cruz, à nossa espera. Como a teia a que a aranha inevitavelmente se entrega."

António Almeida, "Pobres aracnídeos", in Bolas e Letras


O destino como fatalidade, reporta-me à ideia de sermos insectos presos na teia, ao invés dos aracnídeos que a constroem.
E de facto, enquanto andamos demasiado afundados nos "labirintos de medos", incapazes até de levantar os olhos, não somos mais que pobres insectos enredados numa teia obscura, peganhenta e fatal. Enquanto permanecermos entregues a este estado vegetativo, caminhando absortos nos nossos medos, na nossa mente, no nosso mundinho, ser-nos-à impossível percepcionar sequer que somos "peões perdidos na charada de algo muito mais vasto". A grande maravilha, é que essa percepção pode chegar num segundo, "se abrirmos os olhos e levantarmos a cabeça". 

A partir do momento em que temos a coragem de descolar do estado de entorpecimento colectivo, entramos no mundo das opções conscientes. A observação dos outros e de mim mesma, e a contemplação da realidade a que ganhamos acesso ao levantar a cabeça, trazem consigo a questão: É esta a minha escolha?
Quando vislumbramos, por segundos que seja, que somos na realidade aracnídeos aprisionados na mentalidade de insectos, descobrimos a possibilidade de expandir as patas e caminhar com uma nova visão e amplitude. 
Passamos então a ter duas hipóteses: recear a descoberta, voltar a encolher as patas, resignarmo-nos a viver como insecto no meio de insectos, e prosseguir cabisbaixos e de olhos fechados, seguindo as passadas dos outros ou invejando a teia alheia, e atribuindo tudo o que somos ao fatal destino; ou não mais baixar a cabeça, não mais fechar os olhos, não mais caminhar rente ao chão, desvincularmo-nos da crença de Fatalidade, e aceitarmo-nos como aracnídeos, celebrá-lo, construindo a nossa teia, à nossa medida, e na direcção que entendermos.

A teia só assusta quem a receia, quem a vê como prisão. A teia assusta os que ainda não perceberam que são aracnídeos, e os que já tendo percebido, se agarram à roupagem de insecto, por medo da sensação de vertigem que o novo andar lhes provoca.
Aos olhos do seu criador, ela é uma obra de arte única, inigualável, delicada, e de uma beleza incomparável. 

Levanta a cabeça! À nossa espera, só estamos nós mesmos. Até quando vais ficar à tua espera, lindo insecto?...  

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Uma aranha feliz


O mundo no ventre


"Dois bebés ainda no ventre da mãe, a conversar:

- Tu acreditas na vida depois do parto?
- Claro que sim. Algo deve existir depois do parto. Talvez estejamos aqui porque precisamos de nos preparar para o que seremos mais tarde.
- Que disparate! Não há vida depois do parto. Como seria essa vida?!
- Não sei, mas com certeza... haverá mais luz do que aqui. Talvez caminhemos pelos nossos pés e nos alimentemos pela boca.
- Isso é absurdo! Caminhar é impossível. E comer pela boca?! Isso é ridículo. É pelo cordão umbilical que nos alimentamos. E digo-te uma coisa: A vida depois do parto está excluída. O cordão umbilical é demasiado curto.
- Pois eu acredito que deve haver algo. E talvez seja só um pouco diferente do que estamos acostumados a ter aqui.
- Mas ninguém nunca voltou de lá, depois do parto. O parto é o final da vida. E no fim de contas, a vida não é mais que uma angustiante existência na obscuridade, que não leva a nada.
- Bem, eu não sei exactamente como será depois do parto, mas estou certo que encontraremos a Mamã e ela cuidará de nós.
- Mamã?? Tu acreditas na Mamã?? E onde é que tu achas que ela está??
- Onde? Em todo o nosso redor. É nela e através dela que vivemos. Sem ela, todo este mundo não existiria.
- Pois eu não acredito! Nunca vi a Mamã, por isso, pela lógica, ela não existe!
- Bem, mas às vezes, quando estamos em silêncio, conseguimos ouvi-la a cantar, ou sentir como acaricia o nosso mundo. Sabes, eu penso que há uma vida real que nos espera e que agora estamos apenas a preparar-nos para ela..." 


Autor desconhecido


Hoje apeteceu-me partilhar convosco este texto, que acho absolutamente delicioso.
Creio que dispensa grandes comentários. Trata brilhantemente as nossas questões existênciais. Quem somos, qual o propósito da vida, existirá algo além disto? Um Criador? Nunca vi. Não há provas cientificas que me façam crer na sua existência. É exactamente aquilo que nós vivemos até despertar a consciência para tudo o que somos - limitados ao que vemos, ao que conhecemos, ao que achamos que é a vida e o mundo. 
Eu sou um bébé crente de que há vida além da vida. E sim, acredito que para lá desta vida, a luz será mais forte e brilhante. Mas isso não faz desta uma fase meramente preparatória; ela faz parte do todo que sou eu. Deve ser exponencialmente vivida e celebrada. Sabendo que já viajo há mais do que a minha memória me permite alcançar, e que seguirei o caminho com a bagagem que arrecadar neste apeadeiro. 

Deixo uma questão para reflexão, além das já sugeridas pelo texto: 
Lembras-te da tua vida no ventre? Não, claro. Quer isso dizer que ela não existiu?... Quer isso dizer que não eras tu?... Então porquê tanta renitência em acreditar, não só no que há-de vir, como também no que já foi?... Porque te agarras à ideia que só existe aquilo de que tens memória, e que tu só existes neste mundo, neste tempo, com este corpo?...
Pensa nisso.





Feliz a felicidade inconsciente!





"São poucos os anos da infância e, como tudo o que é único e especial, fogem-nos das mãos e da vida com demasiada rapidez. Pecam apenas esses anos pela inconsciência da sua riqueza por quem os vive porque, também como tudo na vida, a felicidade tarda em ser reconhecida e apreciada. Se nem as crianças devoram cegamente a bênção da vida dificilmente a felicidade será plena e incondicional. É também esse o destino que a vida nos legou."



O pecado referido é justamente o que permite a esses primeiros anos de vida que sejam de plena felicidade. Tivessem eles a (nossa) consciência de felicidade enquanto a vivem... e não a viveriam!
A consciência (mal construída) é que vem estragar tudo! Seríamos todos felizes se não houvesse a consciência (errada) do que é a felicidade. As crianças, quando ainda não foram carimbadas com os nossos estereótipos, inocentemente celebram as coisas mais simples da vida. E por isso são felizes!

Esses abençoados anos de "inconsciência" são muito poucos, sim. Culpa nossa, dos pseudo-conscientes, que não descansamos enquanto não lhes arruinamos o delicioso estado com as malfadadas crenças. Sim, caríssimos, aquilo a que nós levianamente chamamos de consciência, não é mais que uma amálgama de medos, crenças e ilusões. E ironicamente chamamos-lhes a eles, aos recém-chegados, de inconscientes, porque ainda não foram viciados. Porque ainda têm imaculada a consciência (com que nasceram) de quem são e do que é na verdade a vida... E essa nós já a perdemos em tempos de que nem guardamos memória, às mãos dos conscientes adultos que nos moldaram a infância, tal como nós repetimos agora, por força das convenções e à falta de saber fazer diferente.
E a partir do momento em que começamos a educar os nossos filhos, com todo o amor e as melhores intenções possíveis, a partir do momento em que eles são tocados pelas nossas mentes ávidas de rótulos, entram na vida "real" onde lhes asseguramos constante insatisfação.

Queres ser da idade do irmão mais velho, para poderes andar com os crescidos. Quando lá chegas, já os crescidos são adolescentes, e não percebes pra que querias ser crescido - afinal isto não tem encantamento nenhum. Afinal queres é ser adolescente o quanto antes, mudar de escola e poder namorar! Depois queres crescer mais ainda, e rápido!, para poderes sair à noite, tirar a carta de condução... O carro é que vai ser! O carro é que te vai dar liberdade! Canudo na mão (porque lá te impuseram a treta que tens de ser Dr. pra seres alguém). Agora só falta o emprego, pra poderes começar a ganhar o teu. Pela ordem natural das coisas, segue-se a casa. A independência, finalmente!! E quando és finalmente adulto, davas tudo pela ligeireza dos problemas da infância e os dramas da adolescência.
Se és solteiro queres casar e constituir família; quando és pai de filhos suspiras por uns dias da saudosa liberdade de solteiro.

Somos eternamente descontentes.
O futuro nunca mais chega, e o futuro é que há-de ser bom. O passado já se foi, e lá é que eu fui feliz. Vivemos em perseguição do futuro e a lamentar nostalgicamente o passado.
Só gostava de saber: QUANDO IREMOS NÓS PERCEBER QUE O PASSADO DO FUTURO É O PRESENTE??? É do hoje que vais ter saudades amanhã! Então e que tal não desperdiçar o hoje preso no ano passado nem suspenso no mês que vem?
Passado é angústia, futuro é ansiedade. Só o presente é real. Pára de chorar o ontem e suspirar pelo amanhã! Respira apenas! Pára de procurar a felicidade em todo o lado, e percebe que estás no meio dela! Que ela está dentro de ti! Permite-te vivê-la e ela viverá em ti! 
Apaga aquilo que achas que é consciência, e consciencializa-te de tudo o que és!
No dia em que conseguires apenas viver exactamente aquilo que tens hoje, sem te prenderes a fantasmas nem ansiares o que está por vir, nesse dia serás plenamente feliz.


CLOUD ATLAS - Everything is conected



Já tenho recomendado a mentes que começam timidamente a despertar, que vejam (ou revejam) a trilogia Matrix. Noutro sentido, referencio "Manobras na Casa Branca" como um magnifico despertar. Cloud Atlas, eu recomendo veementemente a quem quer de facto despertar, ou já o fez.

Desde que vi o trailer deste filme pela primeira vez, senti "Tenho de o ver!"
Acabo de o fazer.
Ainda meio anestesiada, não consigo fazer a crítica que este magnífico trabalho merece, mas não posso refrear o impulso de partilhar convosco que este é dos filmes mais brilhantes a que já tive o prazer de me entregar. Estou extasiada, siderada, emocionada.
É tão rico, tão intensamente deslumbrante, tão saturado de ensinamentos, de verdades, está tão carregado de mensagens, tem tanta, mas tanta informação, que creio ser impossível absorver tudo com um único visionamento.
É um filme para mentes despertas. Os que insistem em caminhar de olhos fechados, poderão achá-lo um belíssimo trabalho cinematográfico, ou apenas um filme com um enredo demasiado complexo. Mas não estarão aptos a alcançar a extraordinária magnitude da comunhão que é este filme.

Eu humildemente vos confesso, que mal vi o "the end", e me permiti voltar a sentir-me, fui tomada por uma emoção tão avassaladora, por uma beleza tão imensa, por uma alegria incomensuravelmente profunda por estar aqui, por ser quem sou, por fazer parte deste maravilhoso Universo, e acima de tudo por VER, por ter optado por um caminho que me permite estar desperta e entender cada mensagem deste filme, que nesse instante, quando terminou a minha viagem e voltei aqui, o impacto foi tão forte que a emoção teve de extravasar e se libertou num pranto. Chorei copiosamente. Com um sentimento de felicidade e amor tão sagrado, tão puro, que poucas vezes o senti. Muitos de vocês não entenderão. Mas alguns de vós, saberão do que falo. A vós me dirijo: não deixem de ver este filme...



És um Homem ou um Macaco?...

"Um grupo de cientistas colocou 5 macacos numa jaula: No centro um escadote e sobre ele um cacho de bananas.
Sempre que um dos macacos subia ao escadote para chegar às bananas, os 4 que estavam no chão recebiam um jacto de água fria. Isto repetiu-se várias vezes, até que quando um deles tentou subir o escadote, os outros desataram a bater-lhe. Cada um que se aproximasse do escadote, era espancado. Até que desistiram de tentar chegar às bananas.
Um por um, os macacos foram substituídos por outros elementos. Cada macaco novo que entrava na jaula, tentava chegar às aliciantes bananas, e sempre que tentava, levava pancada dos outros. Em pouco tempo, ele próprio faria o mesmo a qualquer elemento que entrasse no grupo. 
Finalmente todo o grupo tinha sido trocado, já não restava nenhum elemento do grupo inicial. Nenhum dos macacos que estava na jaula tinha sido molhado com água fria por causa das bananas. No entanto, mantiveram o mesmo comportamento agressivo sempre que algum se aproximasse do escadote.
Se os macacos falassem, e lhes perguntassem a razão daquele comportamento, eles responderiam: Não sei. Sempre foi assim..."  











É assustador perceber que todos temos crenças tão profundamente enraizadas que nos habituámos a encará-las como dado adquirido. É assim. Funciona assim. Ponto.

A Nova Era tem trazido à tona a vontade de largar as velhas ideias, ou pelo menos pensar sobre elas, em que medida fazem sentido para nós, ou até que ponto as aceitamos sem percebermos muito bem porquê, de onde surgiram ou qual a sua legitimidade, limitando-nos a seguir cegamente o rebanho. Ou os outros macacos.
Felizmente, a realidade que até aqui nos era vedada, toldada por ilusões e medos, e que apenas alguns iluminados conseguiam vislumbrar, começa agora a ser percepcionada por mais e mais mentes "comuns", à medida que vamos despertando. Pensamentos que nos assombravam pontualmente e aos quais não atribuíamos grande importância, começam agora a surgir com mais clareza, maior definição, e começamos a querer agarrá-los e dar-lhes forma e consistência.

É chegado o momento de começarmos a questionar regras, padrões, dogmas e conceitos, implementados há tanto tempo que até aqui nos era impossível sequer contestá-los (já que nem tínhamos consciência deles), quanto mais aspirar a que pudéssemos funcionar sem eles, ou pô-los a funcionar para nós.
E são muitas as matérias para as quais estamos a despertar, intra e inter-pessoais.

Aqui entra o reverso da medalha... 
Andaremos nós agora a pensar demais?!
Idealmente, chegaremos a um momento em que não teremos tanta necessidade de pensar sobre as coisas, elas estarão integradas por/em nós, bastar-nos-á sentir e deixar a vida fluir.
Eu que sempre me dediquei excessivamente à arte de filosofar, na época que atravessamos, com todo o insight que vamos recebendo de questões que encadeiam umas nas outras, tenho dias de uma agitação mental que se torna de facto cansativa e difícil de domesticar. Outra recente e fabulosa tomada de consciência: A Mente! - poderosa inimiga ou aliada? (A explanar noutro episódio)

Em tempos, já me preocupou o facto de pensar demais. Não queria cair no erro da pura masturbação mental. Mas depois entendi que por trás de cada pensamento eu vou buscar um ensinamento que acabo por tentar incluir na minha vida. Tal como quem tira a carta de condução, primeiro há que perceber o funcionamento das coisas para depois as poder "esquecer" e passar à acção. Se de inicio nos parece impossível assimilar e coordenar a multiplicidade de funções a executar em simultâneo, quando as integramos e elas são tão naturais em nós como respirar, o que complica e nos atrapalha é justamente pensar sobre elas em vez de simplesmente conduzir! Mas primeiro há que aprender! Tudo faz parte do processo e leva o seu tempo.

Já tenho vindo a deixar por aqui algumas das minhas "descobertas", com as quais se poderão identificar ou não. Tenho-lhes chamado Despertares. Em pleno dia de ebulição mental, estou em crer que não tarda muito que publique mais uma...
Não tenho respostas para vos dar. Tenho as minhas respostas, que partilho convosco. E algumas questões que julgo pertinentes, para quem se atrever a pensar.