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Nevoeiro

Nuno Martins Fotografia - All Rights Reserved

Acordo para um dia de nevoeiro cerrado.
As janelas parecem mostrar um imenso nada. 
Sei que, apesar de invisível, está tudo lá: o sol, as árvores, os pássaros, a cidade, o mundo. 
E as pessoas - nas suas rotinas matinais, a partir para as suas vidas. Metem-se no carro e lá vão elas. A vida não pára quando há nevoeiro, e elas lá vão. Confiam que também a estrada continua lá, apesar de não a verem. Confiam que os levará ao seu destino, talvez hoje mais devagar que noutros dias. 

A vida não pára, nem mesmo quando o nevoeiro é tão denso que não se vislumbra um palmo adiante.
É preciso confiar. Está tudo lá. Está tudo no seu lugar.






Fermentação



Quando era miúda adorava ver a minha avó a fazer as filhoses para o Natal.
Depois de amassar vigorosamente a massa, ela colocava-a num grande tabuleiro de barro para fermentar e cobria-a com um pano. Nada de tampas, apenas um leve pano.

Ela sabia que era preciso dar tempo a que a massa fermentasse, e ía pacientemente observando a massa a crescer, levantando só uma pontinha do pano, até que ela extravasasse os limites do tabuleiro.
Quando chegava a altura de fritar, ela também sabia que não devia colocar muita massa na fritadeira ao mesmo tempo. Duas ou três porções de cada vez, para as poder vigiar, para que cada uma tivesse o espaço necessário e não se colassem umas nas outras. 
Polvilhadas depois com açúcar faziam as delícias de qualquer um que as provasse. Não tenho dúvidas que o ingrediente secreto que as tornava inesquecíveis era o amor com que as fazia.
Escusado será dizer que assim que a minha avó começava a preparar a massa ficava rodeada de miúdos em pulgas por começar a comer. Lembro-me que a ansiedade de nos lambuzarmos com aquela maravilha nos levava a pressioná-la a cada passo do moroso (para nós interminável) processo: "Já está bem amassado, avó! Ainda não fermentou?? Vá lá avó, de certeza que já está bom para fritar! Põe mais na fritadeira, avó! De certeza que cabem mais! Já arrefeceram?"
Ela sentia a pressão dos gulosos impacientes. E sorria. E não fazia caso.



Olho para a humanidade assim: massa a fermentar.
E estamos (genericamente falando) numa altura muito propícia à fermentação.
Observo (em mim e nos outros) a massa a borbulhar, cada vez mais mudanças a acontecer, mais gente com a predisposição para essas mudanças, os olhos incendiados com a vontade de expandir horizontes, de questionar, de rasgar velhas crenças e hábitos.
E vejo muita pressa - incluindo a minha - em começar a comer as filhoses. 

Temos muito por onde crescer, mas a nossa necessidade de definição e afirmação leva-nos a sabotar e apressar o processo.

Vivemos na mentalidade do fazer.
E, entendendo a importância da acção, da definição de prazos e objectivos, creio que descuramos demasiado o período de fermentação.
Na vida tudo tem o seu ritmo, e tão importante quanto o movimento é a quietude; o espaço dado à respiração. Basta que penses na importância das pausas numa dança, numa melodia, num discurso, numa anedota - antes da punch line. 

Quando nos impomos prazos muito rígidos e nos obrigamos a apressar-nos para os concretizar, duas coisas podem acontecer: pomos a massa a fritar antes de tempo e estragam-se as filhoses, e não observamos a magia que é a massa a crescer.
Mal sentimos a massa a crescer um pouco já queremos começar a fazer filhoses em série. Uma e outra e outra, até termos a fritadeira tão cheia de porções de massa que já nem sabemos qual temos de virar, qual é a primeira que tem de sair, correndo o risco de se colarem umas às outras, transformando-se numa gigantesca filhós sem ponta por onde se lhe pegue. 
Isto acontece porque entendemos a fermentação como "não fazer nada", uma perda de tempo. Já amassámos a massa, sabemos que a queremos fritar, este momento entre as duas acções em que nada parece estar a acontecer gera muita ansiedade: não temos nada para fazer além de esperar e ir observando a massa a crescer, sendo que, como ela está coberta com um pano, na maior parte do tempo nem sequer vemos nada!
Esquecemo-nos que essa acção que se passa por baixo do pano que, sendo invisível, sentimos como inacção, é parte fundamental do processo. Se soubermos dar tempo ao tempo, essa mudança será bem visível, quando compararmos a massa fermentada com a que colocámos a fermentar.  
Esquecemo-nos também que enquanto a massa fermenta, podemos afastar-nos e são inúmeras as coisas que podemos fazer que em nada dependem das filhoses, incluindo não fazer absolutamente nada e oferecer-nos um momento de paz por entre a azáfama. 
Bom, se queremos comer as filhoses pelo Natal, é importante aplicarmo-nos para que fiquem prontas no Natal e não na Páscoa... 
Mas é igualmente importante, depois de fazermos a nossa parte, deixar que a massa que resultou do nosso trabalho faça também a sua, aceitando que ela já não está nas nossas mãos, não depende de nós quando ficará pronta, e que podemos ter de aguardar uma hora, duas, ou até à manhã seguinte. Claro que podemos sempre tentar acelerar o processo, pô-la em cima do aquecedor ou qualquer outra coisa... mas, na verdade, a massa ficará pronta... quando ficar. 
Como saber que estamos no tempo certo de agir? Como saber se a massa já fermentou? Se já fritou? Provavelmente a experiência ajudará a sabê-lo instintivamente. Entretanto, em caso de dúvida... vamos testando. Nada nos impede de por um pouco de massa na fritadeira e ver o que acontece.
Ceder a pressões (internas ou externas) conduz a precipitações. Não significa que corra sempre tudo bem se não nos apressarmos; isso não garante nada além da possibilidade de agirmos conscientes das nossas escolhas e aceitarmos as consequências como resultado da nossa acção. E isso, não sendo nada, é tudo. 


O mesmo se passa com objectivos muito estanques: se cobrirmos a massa com uma tampa em vez de um pano, estamos a limitar-lhe a possibilidade de crescimento ao que previamente estabelecemos, a impedi-la de se expandir livremente e, quem sabe, surpreender-nos. 

Finalmente, é ainda crucial estar aberto à possibilidade de não haver filhoses. 
Convém lembrar que neste processo, como em tudo, apenas uma (diria pequena) parte está realmente sob o nosso controle. 
É tão possível que a coisa corra bem como o é que ela corra mal, por motivos que nos transcendem, e apesar de todo o nosso empenho. 
Enquanto o seu corpo lhe permitiu, a minha avó cozinhava como ninguém. E nem todo o seu amor e as décadas de experiência impediram que, um certo Natal, as várias tentativas de filhoses acabassem em massa crua no lixo. 
Se ficarmos fixados no facto de não haver filhoses, não vamos desfrutar dos sonhos, azevias e restantes iguarias que possam estar em cima da mesa.

O amor é ingrediente fundamental em tudo o que fazemos. Até nas pausas.
A flexibilidade é vital.




Se quiseres, relaciona esta metáfora com a tua vida:

Em que fase estás, em cada área da tua vida?
Estás a garantir que amassas com amor?
Estás a respeitar o tempo de fermentação?
Enquanto esperas que uma área fermente, estás a dedicar-te a outra?
Quantas filhoses estás a tentar fritar ao mesmo tempo? Como está a correr?...
Estás a dar-lhes tempo para arrefecer e solidificar?

Provavelmente em alguma(s) área(s) da tua vida estás agora na fase da degustação.
Estás a exultar cada dentada?

Todas as fases têm um gostinho muito especial. Saboreia-os! 







Aceitando as marés

Nuno Martins Fotografia - All Rights Reserved

Todos os dias o mar beija a rocha, e nesse toque suave ela vai-se moldando, lentamente, rendida às suas gentis carícias. 
Aos olhos que a vêem todos os dias, as ínfimas mudanças são imperceptíveis. Será talvez com surpresa que, um dia, esses olhos se apercebem que a paisagem mudou.
Mas o mar é feito de marés, o tempo é feito de estações e, um dia, irremediavelmente o inverno chega, as águas agitam-se e batem furiosamente na rocha.
Vistos de fora aqueles embates parecem violentos - o mar tomado de toda a sua força é imparável, não há barreiras que o Homem construa que o possam travar ou conter. Se a rocha falasse, talvez perguntasse ao mar porque a agredia daquela forma, o que tinha ela feito para merecer semelhante castigo. Talvez lhe gritasse que ele é injusto e, não tendo como esconder-se ou fugir à inevitabilidade da tareia, talvez se sentisse uma vítima das suas injustiças.
No entanto, quando o mar acalma - e o mar sempre acalma - a rocha apercebe-se que ele não a destruiu, pelo contrário: o mar entrou pela rocha adentro, limpou-a, poliu-a, despiu-a das velhas camadas exteriores cobertas de musgo e lodo, revelando uma nova "pele", mais pura, cada vez mais próxima do seu centro.
Naquele curto espaço de tempo, a sua paisagem mudou acentuadamente. Seriam precisos muitos anos até chegar a esta rocha renovada se o mar a beijasse sempre docemente.
Gosto de pensar que é por isso que se chamam marés "vivas" - porque é quando as águas se agitam que as mudanças profundas ocorrem.
O mar é feito de marés, de tempestades e acalmias que vêm quando vêm e duram o tempo que duram, não há nada a fazer... melhor será aceitá-las, respeitá-las, e recebê-las, tal como a rocha, deixando-as fazer a sua parte e observando as alterações na paisagem.
E agradecer-lhes - sempre.




Mundo recheado de amor e tolerância envolvido em creme de respeito e aceitação, servido com molho de compaixão e acompanhado de partilhas salteadas e alegrias cozidas a vapor de gratidão



"Doce de limão com frutos silvestres." - Pareceu-lhe bom.
Alice tinha dois lagos cristalinos no lugar dos olhos e um arco-íris nos lábios. Aos onze anos gostava de desenhar, cantar e cozinhar. Adorava cozinhar.
Ingredientes ao lume, bastante açúcar e mexer. Mexer sempre - é fundamental.
A campainha soou e quase em simultâneo a voz do irmão:
- Alice, vai à porta!
- Mas estou a cozinhar...
- Paciência. É a tua obrigação. Vai à porta.
Era verdade. Desde que fizera 10 anos atender a campainha passara a ser uma das suas tarefa em casa, e Alice gostava de cumprir ciosamente com as suas responsabilidades. E esta era uma de que gostava particularmente, fazia-a sentir-se crescida e orgulhosa pela confiança dos pais. Numa corrida chegou à porta, espreitou - ninguém.
- Raios! - voltou a correr para junto da panela. - Não pegou. Ufa! - levou a colher à boca, e... - Salgado?! Como pode estar salgado?? - De imediato acrescentou um punhado de açúcar. Continuou a mexer. 
Não tardou que a campainha novamente soasse, e a história repetiu-se: corrida para lá, ninguém, corrida para cá, não se pegou... salgado!
À terceira vez que o irmão a mandou abrir a porta retorquiu-lhe, já irritada:
- Mas não está lá ninguém! 
- Como sabes, se ainda não foste ver? Desta vez pode estar. Pode até ser alguém com uma surpresa para ti... um presente, quem sabe?
Não queria afastar-se da panela. Temia que o doce se queimasse e, pior que isso, sempre que parava de o mexer ficava estranhamente salgado. Dividia-se entre a obrigação de ir à porta e aquela voz que lhe dizia para não tirar os olhos da panela. Mas a possibilidade da surpresa tornou-se irresistível, e decidiu ir o mais rápido que conseguisse. Voou como uma flecha - continuava a não haver ninguém à porta - e foi tão rápida que quando voltou ainda chegou a tempo de encontrar o seu irmão na cozinha... a deitar sal na panela.
Ficou tão furiosa com o irmão, e tão zangada consigo mesma por se ter deixado enganar, que a raiva borbulhou por ela acima, transformando os seus lagos em cascatas que jorraram para dentro da panela.
Agora, com o sal das suas lágrimas a juntar-se ao sal do irmão, o doce estava mais salgado que nunca. Nada a fazer, estava arruinado.




Imagina o mundo, a tua vida, as tuas relações, como algo que cozinhas.

Aquilo que obtens é o resultado do que colocas na panela. Se queres um prato salgado pões sal, se queres um prato doce pões açúcar. Se queres acção tens de agir, se queres silêncio, tens de silenciar. Se queres uma relação de confiança e respeito, tens de dar confiança e respeito. Se durante uma discussão queres calma e entendimento, tens de contribuir com calma e entendimento. Se queres um mundo amoroso tens de dar amor ao mundo. Parece óbvio, não é?...

O grande desafio é que ninguém cozinha sozinho... E não controlas o que os outros cozinheiros colocam na panela. Quanto maior a panela, mais os ingredientes, temperos e cozinheiros envolvidos... maior te parece o desafio!
Na verdade não é, o que tens a fazer é o mesmo quer estejas a cozinhar a dois, a dez, a dez milhões ou sete biliões (ou seja, quer estejas a cozinhar a tua relação amorosa, com a família, com a empresa, com o país, com a humanidade, com todos os seres vivos ou contigo mesmo): focares-te sempre no resultado que pretendes, seja em que situação for.
É simples: independentemente do número de cozinheiros e dos temperos que eles coloquem na panela, aquilo que queres obter como resultado final é o que tens de continuar a por na panela.

Culpar os outros cozinheiros desvia-te do teu foco. Repara como a Alice, enquanto não atribuiu a culpa ao irmão, se limitava a corrigir o tempero... Não estava como ela queria, simplesmente tinha de corrigir. No momento em que houve um culpado veio a raiva (por ele e por si mesma), ela desconectou-se do seu objectivo e ficou incapaz de continuar a corrigir amorosa e pacientemente o seu doce. Repara também que, bem vistas as coisas, não foi a interferência do irmão que arruinou o doce, mas a reacção da Alice a essa interferência, que a levou a desistir de acrescentar açúcar e a reforçar o sal do irmão com as suas lágrimas.

Em vez de os culpares, agradece-lhes. São os seus desafios que te permitem teres as oportunidades que precisas para aprender a temperar, corrigir, lidar com os imprevistos de qualquer cozinha. São eles que te ajudam a tornares-te um cozinheiro de mão cheia.

O que colocas na panela afecta todo o conteúdo. Dentro da panela tudo se mistura. Tu sabes que é assim. Não podes escolher direccionar o sal especificamente a um ingrediente e o açúcar a outro; todos os ingrediente serão afectados pelo que puseres na panela (ainda que possam reagir aos temperos de formas diferentes). Se queres um mundo amoroso, não faz sentido dares amor por um lado e ódio por outro, pois não? Mesmo que a tua intenção seja, por exemplo, dares amor aos que sofrem e ódio aos seus agressores lembra-te que, dentro da panela, inevitavelmente tudo se mistura... O resultado final é por isso reflexo de tudo o que pões na panela.

Equilíbrio - Se não consegues retirar o que está em excesso, acrescenta o que está em falta. Não consegues retirar o sal que os outros (ou tu mesmo) colocam... mas podes equilibrar com açúcar. Temperar não é mais que equilibrar os sabores.
Se não consegues retirar o ódio, reforça a dose de amor. A cura de qualquer veneno é o seu antídoto. Querer curar ódio com mais ódio, parar gritos com mais gritos, resolver agressão com agressão, é tão absurdo como acrescentar sal a comida que já está salgada.

Se não consegues dar o que está em falta... podes não dar nada. Lembras-te quando a Alice encontrou o irmão na cozinha? Ficou irritada, revoltada com o irmão, decepcionada com o resultado. Talvez tenha perdido a vontade de continuar a tentar salvar o doce. Talvez tenha esgotado o açúcar e não tenha mais para dar naquele momento. Às vezes acontece... acontece-nos a todos esgotar momentaneamente o açúcar. A questão é: o doce estava um bocadinho salgado pelas diabruras do irmão... mas foram as lágrimas dela que o deixaram intragável. Se o que temos para dar só vai piorar... podemos escolher não dar nada. Pode ser preferível afastarmo-nos da panela e voltarmos quando tivermos novamente condições para dar o que faz falta, e o que queremos no fundo dar. Não se faz o doce (naquele dia) mas também não se dá cabo dele.

Vigiar o que está ao lume é fundamental. Nem sempre conseguimos manter os olhos postos na panela, é verdade. São muitas as campainhas a distrair-nos, a desviar-nos a atenção do que é realmente importante observar.
Podemos começar por estar mais atentos ao que nos faz tirar a atenção da panela... A quem permito que me distraia? Quais as aliciantes ilusões a que eu não resisto? Quais são as obrigações que me imponho e que me levam a ignorar a minha intuição, aquela voz que dizia à Alice que não se afastasse da panela?...

Regra número um da culinária: provar e corrigir. Nem sempre acertamos no tempero. Às vezes corre melhor, outras vezes pior. E já sabemos que podemos contar com os outros cozinheiro a meter as suas colheradas. Mas se formos checkando sempre à medida que cozinhamos, podemos ir corrigindo, equilibrando, aproximando-nos do resultado pretendido. 


Eu ando aqui a ver se cozinho o petisco anunciado no título. 

E tu, já sabes o que queres cozinhar?

Convido-te a fazeres uma pausa para te observares enquanto cozinheiro: (Pode ser interessante escreveres agora as respostas e ires observando depois, na prática, se elas se confirmam.)

  • Crias as tuas próprias receitas ou segues as dos outros? 
  • Segues fielmente o que te é indicado ou vais improvisando? 
  • Quando improvisas, sabes qual é a tua intenção ou atiras com o que calha para dentro da panela e logo se vê o que sai? 
  • Se o que sai não tem nada a ver com o que esperavas, como lidas com isso?
  • Como lidas com os imprevistos da cozinha? Adaptas-te ou exasperas?
  • Conheces os cozinheiros com quem partilhas frequentemente a cozinha? 
  • Aprendes com eles ou sentes que só te atrapalham?
  • Para ti, regra geral, cozinhar é ______________ (uma alegria, uma experiência, uma fonte de aprendizagem, um tormento, uma obrigação, um castigo,...).

Deixo-te com a sugestão de um exercício prático:

Escolhe uma das tuas relações (faz uma de cada vez, para poderes focar-te e observar com atenção) e cria para ela um "prato" que defina as coisas mais importantes para ti nessa relação. 

Por exemplo: 
- Casamento alegre coberto de amor com bolinhos de cumplicidade e diálogo em cama de partilhas, regados com paciência e polvilhado de paixão.
- Trabalho criativo recheado de pro-actividade, servido com bom-humor e dedicação, acompanhado de estimulantes desafios.
- Discurso interno sereno mergulhado em afirmações positivas acompanhado de infinitas possibilidades e sonhos ambiciosos, servido em travessa de flexíveis atitudes. 

Escreve-o, e depois: olhos na panela! 
Observa (durante o tempo que definires) quantos dos teus ingredientes estás tu a colocar na relação. Corrige o tempero, sempre que necessário.



Se te sentires perdido, escuta aquela vozinha que te fala. 
Ela saberá o que fazer!








Até, minha mãe, até





Uma montanha de Nada

Era uma vez dois gémeos.
Quando nasceram, os seus pais deram a cada um uma montanha de moedas de ouro.
Um dia levaram-nos até às duas montanhas e disseram-lhes que aquelas montanhas eram a sua fortuna, e que competia a cada um gerir a sua o melhor que soubesse.
Um dos meninos desde logo pensou em muitas coisas onde iria usar a sua fortuna! O outro, pelo contrário, decidiu que a queria guardar para o futuro, e todos os dias, dia após dia, ele sentava-se no topo da montanha e ficava a contemplá-la.
De vez em quando via o irmão ir a correr buscar um punhado de moedas à sua montanha e desaparecer novamente. Ele não! Não as gastava consigo; não as dava a ninguém - apenas as guardava. Um dia iria aparecer o investimento certo. Um dia ele iria saber dar-lhes o melhor uso possível.
À medida que o tempo passava, parecia-lhe que a sua montanha ía ficando mais pequena, tal como a do seu irmão... mas pensou que era ele que estava a crescer; seria certamente uma questão de perspectiva.
Só quando o menino se transformou em adulto e o seu corpo parou de crescer, ele percebeu que a sua montanha estava de facto a mingar. Em menos de nada já ela estava a menos de meio, tal como a do seu irmão, que continuava a fazer saques regulares. Como podia ser? O que havia de errado com a sua fortuna? Como podia estar a diminuir se ele não a gastava, se não a usava em nada?!
Desconfiando que o estariam a roubar, o homem, agora ex-milionário mas ainda muito rico, já não abandonava a sua montanha nem para dormir, nem para comer - para nada! Isolou-se do mundo, não permitia que ninguém se aproximasse, tornou-se num homem cada vez mais amargo, convencido que todos queriam rapinar-lhe o que conseguissem. A sua vida era agora, apenas e só, dedicada a vigiar a sua montanha que, ainda assim, continuava a diminuir de dia para dia, até que desapareceu por completo diante dos seus olhos incrédulos.
E foi só quando, já homem maduro, ficou sentado no chão, fixado na última moeda do seu tesouro, e a viu entrar pela terra adentro, que ele pôde perceber que por baixo da sua montanha havia uma fenda, pequenina, quase imperceptível, por onde as moedas, muito lentamente, uma a uma, iam escoando, para um buraco sem fundo e sem retorno. A sua fortuna estava para sempre perdida.
Quando o seu irmão veio, em júbilo, buscar o último punhado de moedas que lhe restava, ficou muito surpreendido de o encontrar a chorar.
- Porque choras, meu irmão? Vejo que também conseguiste gastar a tua fortuna!
- Gastar??? - gritou indignado - Eu não gastei nem uma moeda!
- Então, o que lhe aconteceu?
- A terra engoliu-a. - E chorava - Tu que fizeste da tua?
- Ah, bom, eu estudei!
- Estudaste? E esbanjaste assim toda a tua fortuna?
- Bem... começou por aí. Estudei, li muito. Depois quis visitar os sítios sobre os quais tinha lido, e corri o mundo. Depois quis trazer o mundo a quem não o podia conhecer, e tornei-me professor. Ajudei a construir escolas e bibliotecas. Organizei eventos e viagens. Participei em mil aventuras. Fiz amigos. Celebrei com eles muitas coisas. Apaixonei-me por uma mulher fantástica, que me presenteou com dois filhos. Demos a cada um a sua montanha de moedas de ouro. E agora que consegui gastar toda a minha fortuna, com o meu o último punhado de moedas vou fazer uma grande festa com todas as pessoas que estiveram na minha vida por todos estes anos! Queres vir?
Não tinha grande vontade para festas, nem entendia ainda como se podia celebrar o facto de se ter gasto uma fortuna, mas na realidade já não tinha nada para vigiar, e acabou por acompanhar o irmão até à sua festa.
Só quando viu tudo o que o irmão tinha construído, todos os amigos, a família, tantas pessoas que lhe queriam bem, só então, aquele homem amargurado, pobre e vazio, percebeu que quem tinha desbaratado a fortuna afinal... era ele. Toda a sua fortuna estava perdida para sempre, sem que ele a tivesse utilizado em nada, sem que tivesse construído coisa alguma, sem que a tivesse partilhado com alguém, ou usufruído de forma alguma, além de ficar sentado no topo, impassível, a senti-la escoar-se lentamente.
É certo que provavelmente as suas moedas se esgotariam sem que conseguisse fazer tanto como o irmão, já que por baixo da sua montanha havia uma fenda. Ainda assim, pensou, era tanto o que poderia ter feito...


_____________________________


A minha mãe foi uma pessoa muito especial. Um caso atípico. "Um alien!" - brincávamos tantas vezes. 
Neste conto ela seria, de alguma forma, os dois irmãos. Quem a conheceu bem, sabe que não poderia ser de outra forma. Uma informática que escrevia poemas. Personificação perfeita da bipolaridade, toda a vida foi mulher de extremos, sempre jogou ao Tudo ou Nada.
A primeira parte da sua vida, passou-a a querer usar a sua fortuna com uma sofreguidão desmedida, como se não houvesse amanhã. Amava desmesuradamente. Lutou, escavou, construiu. Casa, família, uma carreira brilhante, um grupo de amigos, um bom punhado de valores que defendia de unhas e dentes, pelos quais lutava, destemida, contra tudo e todos. E foi tal a intensidade com que o fez, tal a voracidade, que um dia... as forças esgotaram-se-lhe, bem antes de conseguir esgotar a sua fortuna. Sentou-se então no alto das suas moedas de ouro (tantas que ainda havia por gastar!) à espera. À espera que o futuro lhe devolvesse a força, à espera de voltar a sentir vontade de sequer olhar para as suas moedas, à espera do momento de voltar a viver. E, por fim, apenas à espera que a última moeda encontrasse o caminho até à fenda e desaparecesse terra adentro.
Há muito que desistira de viver. Sobrevivia. Respirava. A custo.
Divido-me entre a dor da perda e o alívio de a saber melhor - em paz. Conforta-me saber que partiu como queria, sem ter de passar por momentos ainda mais dolorosos e menos dignificantes. Conforta-me saber que passou os últimos dias acompanhada pela família, rodeada de amor, que cumpriu o desejo de estar com os pais e as irmãs, que pôde ainda sorrir com os sobrinhos e sobrinhas-netas. Que no último instante, ainda foi a tempo de conseguir usar as suas últimas moedas de ouro.

E não posso, ou não quero, deixar passar este momento sem me lembrar e sem vos lembrar que o tempo é, de facto, o bem mais precioso que temos. Que o tempo que nos é doado à nascença é o nosso ouro. Que devemos investi-lo com o cuidado de quem investe toda a sua fortuna. Que o devemos valorizar e aproveitar como a dádiva que é, ao invés de o esbanjarmos tão displicentemente, iludidos de que o estamos a guardar, que nos estamos a guardar para algo melhor, que há-de vir, que estamos a guardar a vida para a vivermos mais tarde, quando nos for mais conveniente, quando aparecer o momento que valerá a pena viver,  sempre arrogantemente convencidos que o tempo nunca nos faltará. 
Quero lembrar-me, e lembrar-vos, que paremos de culpar os outros pela nossa falta ou desperdício de tempo: ninguém nos está a roubar a fortuna, somos nós que, levianamente, o relegamos para segundo plano, sem realizarmos que o verdadeiro tesouro não são os bens acumulados, mas os momentos vividos a conquistá-los e a usufrui-los.
Temos tempo... achamos sempre que teremos tempo... mais tarde. Adiamos, protelamos, procrastinamos. Amanha eu faço. Amanhã eu cuido(-me). Amanhã eu amo(-me). Amanhã eu vivo.

A minha mãe esgotou as suas moedas aos 65 anos, o meu pai aos 62. Há quem as veja desaparecer aos 40 - os que farei daqui a uns meses, se me for concedida mais essa graça. Há quem fique sem elas aos 20, aos 10, aos 2...
A minha mãe ía mudar de vida. A minha mãe ía cuidar-se. A minha mãe ía voltar a viver. Já a partir de Janeiro. "Meia-noite! Ano novo, vida nova. Agora é que é. A partir de amanhã..." 
A minha mãe não teve amanhã. Não teve ano novo. Não teve vida nova.  

Desejo fervorosa e humildemente acordar todos os dias com a pergunta "E se hoje fosse o último dia da minha vida?" e adormecer com a resposta "Teria sido um último dia feliz."  


Beijões, gordinha!






De rédeas na mão



"Que 2015 te traga..."

Não, não é nada disto que quero desejar-te. 
Há demasiado tempo que falo em responsabilização para agora te desejar que "o ano te traga" seja lá o que for.
O que te desejo é que TU te tragas um 2015 fantástico! 
Que pares de esperar, confortavelmente sentado, que o novo ano, o tempo, a vida, um Deus ou o vizinho do lado te tragam o que tu ambicionas.
Que pares de culpar o cavalo, a sela ou o piso por não chegares onde queres.
Que tomes as rédeas da tua vida na mão, e que dês o teu melhor para cavalgar na direcção que desejas. Que saibas pular os obstáculos, que tenhas a força para te levantar e voltar a montar se caíres. Que não desistas, se por momentos as rédeas te escorregarem das mãos. Que saibas aproveitar o passeio, mesmo quando o cavalo teimar em levar-te noutra direcção. Que continues em frente, mesmo que não saibas a direcção certa, mesmo que não vislumbres a meta. Que sejas paciente, se lhe apetecer descansar por momentos. E se te parecer que ele quer desistir, não o abandones... não vos abandones. Puxa tu por ele, corre com as tuas próprias pernas, até ao limite das tuas forças e ainda mais além. Se não conseguires correr, caminha. Porque ao ver a tua persistência, a tua garra e a tua vontade de vencer, o teu cavalo vai olhar-te com respeito e, com toda a certeza, ajudar-te a continuar a viagem.

É isto que desejo para mim, e para ti: 
Que saibamos apreciar o passeio, dando o nosso melhor para manter as rédeas nas nossas mãos.
Sabendo, claro está, que um cavalo selvagem é imprevisível; não consegues verdadeiramente domá-lo... E é aí que reside a sua maior beleza.

Que faças um 2015 fantástico! 





Navegar, navegar...



- De onde te vem essa tristeza?
- Da vida. Das dores da vida. Das minhas dores.
- És infeliz?...
- Pelo contrário! Sou muito feliz!
- Mas choras...
- É justamente por isso que sou feliz: porque agora estou triste, e choro.
- Não entendo.
- Sou feliz porque sou inteira. Porque às vezes estou alegre, e outras, triste. E abraço essas duas partes de mim: a alegre e a triste.
- És feliz porque entendes a tristeza?
- Não forçosamente... Tal como nem sempre entendo porque estou alegre - simplesmente estou - e vivo a alegria sem me questionar de onde vem ou porque veio. Aceito-a e vivo-a. Sou feliz porque aceito de igual modo o que me faz sentir bem e o que me faz sentir mal.
- Continuo sem entender. Vejo-te chorar e dizes-te feliz...
- Imagina o comandante de um navio que cruza os mares do mundo levando passageiros de porto em porto. Não lhe é dado a escolher que passageiros quer transportar; ele apenas decide se quer cumprir o seu propósito ou não: ou se faz ao mar ou fica ancorado a ver os outros zarpar.
Se decide navegar, deverá aceitar todos os passageiros. Todos os que têm bilhete para embarcar merecem ser tratados com o mesmo respeito e consideração.
Um bilhete dá ao passageiro direito a duas coisas: ao seu percurso e ao seu lugar - nem mais, nem menos. Ele tem o direito de fazer a sua viagem completa - não deve ser forçado a sair a meio do caminho, nem deve permanecer no navio depois de chegar ao seu porto de destino. E tem o direito de ocupar o seu lugar - não deve ser enfiado num buraco qualquer, nem deve tomar o lugar do leme (esse pertencerá sempre ao comandante).
Se um comandante começar a esconder no porão os passageiros de que não gosta, eventualmente o excesso de peso acabará por afundar o seu navio. Se entregar o leme nas mãos de um passageiro qualquer, é provável que se desvie drasticamente da sua rota e que acabe à deriva. Se a meio da viagem resolver atirar borda fora aqueles que o incomodam em vez de os levar a bom porto, corre o risco de desequilibrar o barco e ficar encalhado. Se resolver então atirá-los a todos borda fora, ficará com o barco vazio, e perderá o seu propósito, acabando ancorado algures. Obterá o mesmo resultado se se afeiçoar demasiado aos passageiros e os aprisionar na sua embarcação, impedindo-os de sair no seu destino - deixará de ter espaço para receber novos passageiros, logo as viagens perdem o sentido - fica igualmente estagnado.
Um bom comandante sabe que a sua missão, aquilo que o realiza e o faz feliz, é justamente servir o melhor que souber todos os seus passageiros. Recebê-los, tratá-los com respeito durante a viagem, e deixá-los no seu destino. Ele sabe que os passageiros são isso mesmo: passageiros - vêm e vão como as marés. É nessa impermanência, nesse ir e vir de passageiros que ele realiza o seu propósito.
Entendes agora que sou feliz porque sou o comandante do meu navio? O meu propósito é navegar o melhor que sei por entre acalmias e tempestades, dando a todos os meus passageiros a oportunidade de fazerem a sua viagem a bordo do meu navio. Sou feliz porque os recebo a todos de braços abertos, lhes permito fazerem a sua viagem conduzindo-os o melhor que sei, e os deixo partir quando é chegada a hora. Sou feliz porque sei que preciso de todos eles para manter o meu navio à tona, em equilíbrio e em movimento. São eles, todos eles, que me permitem continuar a fazer viagens, e por isso sou-lhes grata por embarcarem no meu navio.
- Sim, já entendi. Pronto, vai lá dar atenção à tua tristeza...
- Não é preciso... Ela já desembarcou, quando entrou o teu carinho. Não a viste sair? Obrigada por teres escolhido entrar no meu barco.





Experiência: O impacto das emoções



Masaru Emoto não é um cientista. É um autor e fotógrafo japonês, célebre pelas suas experiências com a água. Defende o autor que a água reage às informações a que é exposta, o que gera alterações a nível molecular.
Ele registou em fotografias microscópicas as suas experiências, nas quais expôs a água a diversos elementos (palavras escritas ou ditas, musicas, imagens), congelando-a de seguida, e fotografando então os cristais formados.  As imagens criadas no gelo são fenomenais, podem vê-las nos inúmeros vídeos disponíveis no You-tube.

Posteriormente, Emoto fez uma outra experiência, desta vez com arroz e água, que pela sua acessibilidade tem sido repetida por curiosos por este mundo fora. E eu, naturalmente curiosa, resolvi fazê-la também (ver para crer, como S. Tomé!).

A experiência pretende demonstrar o impacto que as nossas emoções e intenções têm na água, logo, o impacto que têm em nós mesmos, nos outros e em todos os seres vivos.


Consiste em colocar água e arroz em 3 copos transparentes e, todos os dias:
- Ao 1º dirigir frases e intenções positivas (amor e gratidão),
- Ao 2º ignorar,
- Ao 3º dirigir frases e intenções negativas (ódio, raiva, ressentimento).

Para identificar os copos, cola em cada um deles um papel onde podes escrever uma palavra ou fazer um desenho que identifique cada intenção.


A MINHA EXPERIÊNCIA:

Resolvi duplicar a parada (ou não fosse eu Gémeos!) e utilizei 6 copos:
- No 4º colei a palavra "Amor", e apenas lhe dizia todos os dias: Amor.
- No 5º colei a palavra "Ódio", e apenas lhe dizia todos os dias: Ódio.
- O 6º eu segurava durante alguns minutos junto a mim, em estado de tranquilidade e bem estar.

Durante 16 dias, os copos estiveram sempre juntos, no mesmo sítio, expostos à mesma temperatura, luz, etc.
Pessoalmente estou neste momento a atravessar um estado de goofiness natural (não ando bêbeda nem drogada, palavra!), e foi-me extremamente difícil aceder a estados emocionais de raiva, nojo ou ressentimento (mesmo invocando pessoas / situações que normalmente me colocariam nesses estados!), pelo que sinto que de alguma forma boicotei a experiência, já que além da dificuldade em dirigir emoções negativas, sempre que passava pelos copos não conseguia evitar sentir alegria e embevecimento pela experiência em si, ou seja, por todos os copos... A parte de ignorar um e só dirigir intenções negativas a dois deles não correu particularmente bem.

RESULTADOS:

Nos copos a que só dirigia intenções positivas foi desde cedo visível que o arroz estava a fermentar (uma diferença abismal foi desde logo notória no copo com a palavra "Amor"), mas naqueles a que supostamente teria de dirigir emoções negativas as alterações tardaram.
Os positivos absorveram mais água e estavam muito amarelinhos, os negativos mais esbranquiçados (meio acinzentados), mas o bolor não aparecia em nenhum deles. E assim estiveram até à noite passada.
O cheiro foi a diferença mais perceptível: os copos "positivos" emanavam um cheiro mais subtil e adocicado, os "negativos" começaram a cheirar bastante mal, sendo que terminei hoje a experiência porque do copo "ódio" exalava um cheiro nauseabundo.

Parece-me muito pertinente partilhar este dado convosco, já que interferiu brutalmente na minha experiência: O meu cão passou a semana toda insuportável (anda por aqui uma cadela com o cio, e o bicho chora noite e dia). Esta noite não me deixou dormir, e às tantas levantei-me absolutamente enraivecida e pronta a esganá-lo! Mas lembrei-me: eis a minha oportunidade! Em vez de esganar o meu menino, que afinal não tem culpa nenhuma de sentir o que sente, agradeci-lhe por me ter trazido a raiva que andava a querer sentir, e direccionei-a toda para o copo "ódio". E esta manhã, quando fui ver dos copos, fiquei estupefacta com a diferença!

SUGESTÃO:

Recomendo-vos vivamente que não se fiquem pela minha palavra. Testem! É uma experiência muito fácil de fazer, e com resultados extraordinariamente visíveis. Se tiverem filhos, façam-na com eles!
Esta maravilhosa experiência é uma possibilidade de consciencialização, de "ver com os próprios olhos" como, de facto, não só as nossas acções mas as nossas intenções, palavras e pensamentos são poderosos, e têm impacto em nós mesmos, nas outras pessoas, e em todos os seres vivos.
Mais, acreditando eu que tudo no Universo é composto de energia, e que a experiência se prende com troca de energias, ela não estará limitada à água ou aos seres vivos. Que impacto terão as minhas emoções nos ambientes em que vivo, na minha casa, no meu carro, na minha alimentação... Em que medida influencio, com os meus pensamentos e sentimentos, aquilo que me rodeia, e em que medida sou de facto eu responsável por tudo o que recebo de volta?
Se eu produzo determinado impacto em tudo o que me rodeia, a nível molecular... bom, tirem as vossas conclusões. Relacionem, por exemplo, as doenças físicas com os estados emocionais, ponderem o que andamos nós a oferecer a nós mesmos e aos outros, cada vez que sentimos rancor, ressentimento, inveja, raiva, desprezo...
É tempo de despertarmos...

Deixo-vos as fotografias que falam por si.


Dia 1 - 27/02/2014


Dia 16 - 15/03/2014


1 - Intenções positivas

2 - Ignorado

3 - Intenções negativas

4 - "Amor"

5 - "Ódio"

6 - Tocado (em estado emocional de tranquilidade)




Just a Tattoo...



Nunca fui grande apreciadora de tatuagens.
Defendo que cada um tem o direito de fazer do seu corpo o que entender, e eu entendia que isso de imprimir no corpo algo definitivo não era para mim. Até há poucos meses eu dizia, muito convicta, que nunca faria uma tatuagem! Hoje foi o dia em que o Nunca voltou para me morder no rabo...
Sinto-me tão feliz com a minha escolha que não quero deixar de a partilhar aqui, onde cabe tudo o que sou.

My tattoo...

  • Hoje - porque me sinto finalmente pronta para assumir um compromisso vitalício: comigo mesma. 
  • Uma tatuagem - porque quero ter sempre comigo esta âncora, este símbolo de aprendizagens feitas que quero manter presentes na minha vida; esta lembrança do que sou e do que quero honrar. Porque agora me faz todo o sentido gravar na carne, num misto de dor e alegria, o que tenho vindo da mesma forma a desenhar e memorizar no corpo mental, emocional e espiritual. 
  • Permanente - porque nesta existência de inconstância e efemeridade, também cabe o que permanece.    
  • Uma borboleta - porque é o símbolo da transformação, e eu não quero esquecer-me que sou um ser em eterna transmutação. Quero lembrar-me da beleza e da dor no processo da lagarta. Quero lembrar-me dos meus maravilhosos processos e da minha própria beleza. Quero lembrar-me que quando nada parece estar a acontecer, é exactamente quando dentro do casulo toda a magia acontece.
  • Com uma auréola de anjo e rabo de demónio - porque sou luz e sombra, corpo e espírito, divina e humana. Porque tenho em mim todas as dualidades.
  • Com uma imperfeição (pedido que o tatuador estranhou e não cumpriu tão bem quanto eu desejava), porque assim sou: perfeita na minha imperfeição.
  • Nas costas - porque assim é, e assim sou, mesmo quando eu não o consigo ver. 
  • No centro - porque agora sou, e quero fazer por ser sempre, o meu centro.
  • Num sítio visível mas não flagrante - porque não quero esconder quem sou, e também já não sinto necessidade de o bradar aos céus (abro excepção neste espaço sagrado onde exibo conscientemente todas as minhas cores).
  • Expressa num desenho único e original - porque assim quero que seja a minha expressão: única, idealizada por mim, em traços livres.
  • Abstracta - porque também eu o sou. Para me lembrar que somos mais do que se vê num primeiro relance, que é preciso querer ver e olhar com atenção para ver mais além. Para me lembrar de todas as formas da ilusão. E porque, às vezes, também eu me sinto um emaranhado de rabiscos sem grande sentido, e quero ter presente a beleza que pode existir nesse emaranhado.

Não só a tatuagem em si como todo o processo me validaram aprendizagens fundamentais.
Se estou feliz com o resultado, é também porque fui humilde e confiei: tive a humildade de reconhecer os meus limites e pedir ajuda a quem desenha infinitamente melhor que eu, confiei que ele faria o melhor que soubesse e entreguei-lhe as minhas costas.
Se estou feliz com o resultado, é também porque criei uma relação empática, expressei a minha vontade, fui franca com o outro e leal a mim mesma: só assim foi possível chegar a este desenho, a segunda tentativa. Esta tatuagem também irá por isso lembrar-me da importância de ser verdadeira e explicar-me com clareza, respeito, e as vezes que forem necessárias, exactamente o que eu quero, e não me contentar com o que não me faz feliz, não aceitar um compromisso que não me realiza para agradar aos outros.
Adoro a minha tattoo e estou certa que ao longo da vida a minha linda borboleta vai acumular mais e mais simbologia.
Just a tattoo? Certainly not.






Sobre Mestres e Monstros

Um texto para Reikianos... e não só. 




Quero assegurar-te que este texto foi escrito com amor e, como sempre, apenas com a intenção de mostrar outra perspectiva. O que dele retirares (ou não) será, também como sempre, uma escolha tua.
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Nos últimos dias tenho assistido no facebook a um desfile de Mestres de Reiki revoltados com as "vigarices" que andam pelo mundo do Reiki.
"Mestres revoltados" - não te parece uma contradição em termos? Ponderemos: um Mestre não pode revoltar-se? Claro que sim, um Mestre é humano, logo vulnerável a todas as emoções. Mas pergunto eu: E um "verdadeiro" Mestre, é aquele que alimenta a revolta, ou aquele que escolhe saná-la?

Eu entendo que quem leva o seu trabalho muito a sério sinta a necessidade de alertar para o facto de existirem profissionais com posturas diferentes da sua. Ok, clarifica a tua posição ou, se te pedirem informações, dá a tua opinião sincera. Entrar em guerras, atacar fortuitamente o que para ti é errado, não será desvirtuar a essência do que pensas estar a defender?
"Só por hoje não me zango nem critico. Só por hoje sou bondoso e gentil com todos os seres vivos." - Mikao Usui (Príncípios do Reiki).

Vamos por pontos.


REIKI - MÉTODOS DE ENSINO

Conheço, falando dos extremos, quem faça iniciações de um dia sem mais acompanhamento e com intervalos entre elas pouco superiores aos 21 dias, e quem demore mais de 3 anos entre fazer a iniciação de 1º nível e a de Mestre, com partilhas semanais como parte integrante e obrigatória. Já existe também quem faça iniciações à distância e cursos on-line.
Conheço quem faça iniciações individuais, quem inicie grupos de meia dúzia, quem inicie cem ou duzentas pessoas de uma assentada.
Conheço quem não introduza nenhum símbolo no 1º nível, quem introduza o Cho Ku Rei, e quem introduza logo os símbolos todos (apesar de só ensinar a trabalhar com o 1º).
Conheço quem disponibilize manuais cheios de informação, e quem forneça o enquadramento histórico, os conceitos básicos e uma bibliografia onde os interessados poderão aprender mais.
Conheço quem considere que está a "colocar um dom no iniciado", e quem acredite que a iniciação é essencialmente uma tomada de consciência (o Mestre não está a dar nada, apenas facilita a revelação do que já existe em cada um e ensina a aceder a determinada informação/capacidade).
E posso dar, a quem me solicitar, a minha opinião sobre cada uma destas visões. Não creio que seja relevante aqui. A questão é: quem sou eu para dizer quem está certo ou errado?
Num Universo em que tudo é possível, do qual eu conheço (ou julgo conhecer) apenas uma ínfima parte, não será arrogância eu ter a certeza que estou certa? Como posso eu afirmar, com toda a certeza, que A é melhor que B para toda a gente, ou que C não funciona para ninguém? Eu posso dizer: A não funciona para mim, não me identifico com B, para mim C não faz sentido, ou não sou capaz de fazer D.
Posso dizer X, Y e Z não correspondem à metodologia de Mikao Usui, são uma variação dos seus ensinamentos, é uma corrente diferente, ou desconheço essa forma de fazer. Isso é legítimo.
Dizer simplesmente que é errado parece-me um julgamento prepotente ou ignorante (correndo o risco de estar eu mesma a fazê-lo também neste momento). Humildade, não nos esqueçamos da humildade... Só por hoje...


"ATAQUEMOS O GRATUITO, O BARATO E O CARO!"

Tira o dedo do gatilho por um minuto...
Se um terapeuta oferece sessões gratuitas ou a low cost, é porque não presta um bom serviço: é incompetente ou não tem experiência; se cobra um valor elevado é seguramente um vigarista e oportunista. Cuidado com as generalizações... Pode ser assim e pode não ser.
No primeiro caso: Tal como há fantásticos advogados, que cobram os seus honorários e fazem simultaneamente trabalho pro-bono, também há excelentes terapeutas que se disponibilizam para tratar gratuitamente ou por um valor simbólico quem não pode pagar os tratamentos.
No segundo: O terapeuta pode entender que o preço praticado é o justo, pelo investimento que fez na sua formação, por exemplo.
Há quem faça, como em qualquer outro ramo, promoções, pacotes ou ofertas para cativar mais clientes. Isso implica que é trafulha? A meu ver, implica unicamente que é inteligente, e que toma as medidas necessárias para sobreviver numa economia desfeita e num mercado onde a oferta cresce a um ritmo superior à procura.
Podes ficar "bem ou mal servido", quer sejas atendido gratuitamente, quer pagues o valor "de mercado", quer pagues uma exorbitância - que isto fique claro. O valor (ou sua ausência) não é garantia de nada: nem de qualidade, nem de falta dela; é apenas a opção legítima de cada terapeuta.


"DEFENDAMOS AS POBRES VÍTIMAS DOS VÍGAROS!"

Quase que só me apetecia escrever uma palavra: RESPONSABILIZAÇÃO. Mas vamos lá...
Se eu precisar de consultar um terapeuta, ou se eu quiser tirar um curso, não será minha a responsabilidade de procurar pelos meios que tiver disponíveis aquele que melhor me servirá? Como em todas as áreas, existem bons e maus profissionais. Compete-me a mim, dentro daquilo que me for possível, com os recursos de que disponho, escolher o terapeuta que me transmite confiança ou o curso que me apresenta os conteúdos e metodologia que mais me interessa.
Se eu não fizer o meu trabalho e agarrar a primeira opção que me aparece, e ela se revelar uma má escolha, de quem é a responsabilidade senão minha? Vou culpar o terapeuta, porque é incompetente, ou o formador, porque até tem conhecimento mas é um péssimo pedagogo? A escolha (ou demissão dela - o que é por si só também uma escolha) foi minha...
É mais que tempo de cada um se responsabilizar pela sua vida (e apenas pela sua vida!), pelas suas escolhas e pelas consequências que elas lhe trouxerem. O mesmo é dizer que chega de nos vitimizarmos ou colocar os outros no papel de vítimas que temos de defender.
O meu papel na vida do outro, quanto muito, e se solicitado, será o de consciencializar para a importância da responsabilização das suas escolhas. E, se solicitado, dar o meu parecer, que nunca será mais do que a minha (e apenas a minha) percepção sobre a pessoa, instituição, curso, ou o que for.
Clarificando: Quem quer boas influencias na sua vida que faça por tê-las. Não és tu que tens de o defender das más. Afinal... quem queres tu defender? Quem se sente realmente atacado, além de ti?


"ABAIXO OS FALSOS MESTRES!"

"Semelhante a uma flor, que parece linda mas não tem nenhum perfume, assim são as palavras infrutíferas do homem que as fala mas não as coloca em prática." - Dhammapada

Palavras como Mestre e Guru estão hoje tão banalizadas que perderam a sua verdadeira essência.
Eu fui iniciada no 3º nível de Reiki. Não me considero Mestre. Nem de Reiki, nem de coisa alguma. Tenho algum saber e alguma sabedoria que me disponho a partilhar com quem me procure, e tenho uma infinidade de coisas a aprender. Talvez um dia venha a ser formadora. Farei o meu melhor por ser sempre inspiradora. Ser Mestre é uma honra e uma responsabilidade que eu respeitosamente declino.
Se tu te julgas realmente nesse caminho, recorda-te apenas que o Mestre inspira pela palavra e pela acção; pelo conhecimento e pela sabedoria. Mais do que ensinar, o Mestre quer aprender, e sabe que a melhor forma de aprender sobre os outros, é aprendendo sobre si mesmo. Repara que quando esticas o dedo para fora e acusas "Falso Mestre!", três dedos da tua mão apontam para ti... Porque insistimos em ver o mal dos/nos outros, quando claramente ainda há tanto a trabalhar em nós mesmos?
"A alma não tem segredos que o comportamento não revele." Lao-Tsé

A Luz não existe sem a Sombra. Mais, "Luz" e "Sombra" são conceitos humanos, logo dependem da percepção de cada um. Até os "maus" Mestres têm razão de existir. Sem os maus, como reconhecerias os bons?
Deixa a "Sombra" existir. Não te compete eliminar a sombra do Universo... Experimenta em vez disso perceber apenas o que tu percepcionas como Luz e como Sombra, e de qual delas te queres aproximar mais. E deixa que cada um escolha igualmente onde se quer posicionar.
"A tua acção é a tua punição e a tua recompensa. Tu és o Mestre do teu destino." - Osho
Sê o teu próprio Mestre e permite que cada um seja o seu. Cada um tem o direito de escolher o seu destino e o seu caminho, cada um criará as suas próprias punições e recompensas.
"Tolerância não significa aceitar o que se tolera." - Mahatma Gandhi - Se não te serve, não incluas na tua vida. Mas respeita que faça sentido na vida do outro.

Consciencializa-te da incongruência que estás a viver, quando por um lado te intitulas Mestre de Reiki e defendes fervorosamente a ética, e por outro dedicas tanto do teu tempo a julgar e criticar, a alimentar a raiva e o rancor, acreditando arrogantemente que a única maneira é a tua maneira. Entende que a tua verdade não é absoluta, ela é apenas a tua verdade. Vive-a, pois. Quanto mais te focas nas verdades dos outros, mais te afastas da tua. Questiona-te: Não ganharei muito mais (paz, harmonia, felicidade) a exultar a minha verdade do que a atacar as verdades alheias? Não ganho mais a construir a minha realidade do que a tentar destruir as realidades dos outros? Que energia e emoções estou eu a viver e a partilhar num caso e noutro? Muda o foco... Deixa lá os outros e as acções dos outros, e toma atenção às tuas...
"Não há inimigos fora de ti próprio." - Tulko Lobsang


MESTRES

"Ao envelhecer deixei de escutar o que as pessoas dizem. Agora só presto atenção ao que elas fazem." - Andrew Carnagie

Ao longo da nossa vida, se estivermos atentos, encontramos alguns Mestres. É possível que não tenham certificado algum, que não façam a menor ideia do que seja o Reiki, que nunca tenham pensado em energias ou espiritualidade. É possível que sejam pessoas totalmente cépticas e descrentes. É possível que sejam iletradas, humildes. É possível que assumam a forma de pedintes, crianças, ou pessoas pouco empáticas ou que nos provocam até alguma resistência. Fica atento: observa os outros com humildade e curiosidade, disposto a aprender. A Mestria revela-se por vezes onde menos a esperamos.

Os princípios de Reiki, os ensinamentos espirituais de Jesus, Budha, Osho, Gandhi, Madre Teresa, Dalai Lama, Lao-Tse, Veda Vyasa, Rumi, etc., etc., etc., não valem rigorosamente nada se não passarem de frases poéticas com que te envaideces, convencido da tua sabedoria.
O Mestre não nasce de frases bonitas; são as frases que nascem das vivências bonitas do Mestre.
É fácil ser "espiritual" em meditação ou retiro. O desafio, e o que faz dos Mestres Mestres, é sê-lo aqui, neste plano, neste corpo humano, com esta mente contraditória, entre relações conflituosas e situações frustrantes e assustadoras. No dia a dia. A grandiosidade não está em criar ou repetir frases poéticas, mas em viver conscientemente cada dia, e experienciar momentos que, de tamanha beleza, lucidez, humildade, dor, aprendizagem, amor e conexão, se transformam depois em poesia.
Quando dizes Namasté, tens de facto a convicção que habita um Deus em cada um de nós, ou pensas que isso só se aplica àqueles que passam no crivo do teu julgamento?
Quando unes as tuas mãos e baixas a tua cabeça, fá-lo de facto em reverência, humildade e gratidão pela perfeição do outro, ou é apenas um gesto impensado?
"A coisa mais difícil do mundo é dizer pensando o que todos dizem sem pensar." - Émile-Auguste Chartier
O que te diz o teu espelho, na sua forma mais pura e honesta? És tu um Mestre?

Por vezes, o Mestre não sabe que é Mestre.
O Mestre não quer ser Mestre de ninguém, além de si mesmo.
O Mestre expõe, não impõe.
O Mestre aceita tudo o que É.
O Mestre agradece todas as oportunidades, e transforma-as em aprendizagem. Todas.
O Mestre sabe que espelha e é espelhado.
O Mestre conhece o seu Mestre e o seu Monstro, e reconhece-os no outro. E respeita essa dualidade. Incluindo a sua.







Depois da tempestade...


O chilrear dos pássaros anuncia-me que a Stephanie já partiu e o sol voltou a brilhar.
Algumas árvores derrubadas, uns quantos vidros partidos.
Incontornável é também o intenso cheiro a terra molhada. Apesar do frio a luz é quente, e parece avivar as cores dos velhos edifícios e dos canteiros que os adornam. Os verdes ficaram mais verdes e a relva transpira, pulsante de vida. Por agora o sol brilha.

Observa a tua casa. É possível que a sua estrutura tenha abanado, ou que tenha ficado virada do avesso. É possível que haja um rasto de devastação à tua volta.
E é por isso possível que precises de algum tempo para apanhar os cacos, recuperar os estragos, e repor a harmonia dentro das tuas paredes.
É também possível que essa te pareça agora uma tarefa infindável, demasiado penosa, e totalmente injusta: um castigo que não fizeste por merecer.
É, ainda, possível que ela volte; possivelmente ainda mais destruidora. E é possível, ou provável, que estejas novamente impreparado para a receber.

Quantas Stephanies já te visitaram na tua vida? Quantas vezes já sentiste que nunca dobrarias o cabo da Boa Esperança? E quantas vezes, quando te parecia impossível, acabaste por dobrá-lo e reencontrar a bonança do outro lado?
Lembra-te: mesmo depois da pior das tormentas regressa a calmaria, e a vida encontra sempre uma forma voltar a brotar em todo o seu esplendor. Mais cedo ou mais tarde o mar acalma, o furacão transforma-se em brisa, e o sol volta a iluminar os caminhos.
Há tempestades que não podemos evitar; às quais não conseguimos fugir. Se não te adianta fugir, abraça-a. Enfrenta-a. Vive-a. Sente a chuva, o vento e a trovoada. Chora as tuas perdas, vulnerabiliza-te, permite-te experienciar o sofrimento. E depois deixa-o partir, da mesma forma que chegou.
Deita fora o que se partiu, reconstrói o que ficou. Depois do temporal verás que encontras novos materiais à tua disposição, e que com eles vêm novas ideias e melhores projectos. Irás surpreender-te a olhar para a tua casa de uma perspectiva que nunca antes tinhas observado. Quando o sol voltar a entrar pelas novas janelas, quando ele beijar os teus novos bens, inundar cada recanto e te envolver no teu novo espaço, verás que afinal o castigo talvez tenha sido uma bênção, e que a tua casa está agora mais bonita que nunca!
Assim são as tempestades, e assim é a maravilhosamente inexplicável Vida.






Seize the moment


Durante a certificação de Practitioner em PNL fui voluntária para a demonstração de um exercício que acabou por me "exigir" alguma exposição e vulnerabilização. No fim, alguns colegas procuraram-me para me parabenizar pela coragem, ou agradecer pela entrega. E eu agradeci-lhes de volta, por não se terem voluntariado...
Seria interessante que os meus colegas conseguissem entender que o meu acto não foi de coragem, mas de puro interesse. Em última análise, fui egoísta. E sou frequentemente uma tremenda egoísta, se assim entendermos que o é alguém que quer tirar o maior proveito possível de cada situação.

Era suposto ontem ter deixado uma mensagem inspiradora aos meus colegas, e seria esta a sugestão que lhes queria deixar, mas a emoção embargou-me a voz e tolheu-me as palavras... fica aqui a mensagem para eles, e para "quem mais a quiser apanhar".

Quando participo num curso, seminário, workshop, seja ele de formação profissional ou desenvolvimento pessoal (ou ambos!), vou com a atitude que quero implementar cada vez mais na minha vida: aproveitar ao máximo cada momento. Se tenho ali profissionais extraordinários com quem posso trabalhar e melhorar, seguramente vou "usá-los" tanto quanto puder, respeitando obviamente o espaço dos outros e não privando ninguém das suas oportunidades.
E é esta a sugestão que quero deixar aos meus colegas e a ti, que me estás a ler agora: aproveita cada momento! Seja um curso, uma reunião, um jantar em família ou um café com amigos. Os pequenos momentos: os beijos, os abraços e as gargalhadas. Os banhos dos filhos, os passeios dos cães, os telefonemas da mãe, os serões de enroscanço no sofá... Aproveita! Porque quando deres por ti, o momento já passou. Aquela oportunidade, única e irrepetível, já expirou.
Então é exactamente esta a minha sugestão: aproveita ao máximo a vida e tudo o que ela te oferece, da forma que fizer sentido para ti. Vigia-te, para que não te esqueças de o fazer. De vez em quando vai espreitando para trás, por cima do ombro, só o tempo suficiente para te responderes: "Aproveitei tudo o que queria?" Se sim, excelente! Se não, pergunta-te: "O que quero saborear melhor na próxima ocasião semelhante?"
Podes sempre sempre tirar o melhor partido de cada situação. Sim, mesmo em situações que nem sequer escolheste! Ficas preso no trânsito. Vais chegar tarde a um compromisso importante.
Ok, tens duas opções: ou vais o caminho inteiro a stressar e chegas ao teu destino num estado de elevada irritação, ou aproveitas a oportunidade para apreciar a paisagem.
Não há paisagem, estás no meio da cidade com carros por todos os lados. Ok, podes observar as pessoas à tua volta, podes ouvir o teu programa de rádio e cantar as tuas músicas preferidas.
Estás enfiado dentro de um túnel, até já desligaste o carro e nem consegues sintonizar o rádio. Ok, aproveita para meditar. Podes fazê-lo de olhos abertos... Aproveita para pensares nas coisas boas que tens na tua vida. Começa por te lembrar que tens vida. Que tens mobilidade e autonomia. Que sabes conduzir. Que tens carro e dinheiro para o combustível. Que tens compromissos onde a tua presença é importante, logo: tu és importante. Lembra-te de cada pessoa importante para ti. Cada familiar, cada amigo, cada colega, cada cliente... Vais perceber que é interminável a quantidade de coisas boas que tens na tua vida, e que poderias passar horas a pensar em todas elas. Verás que te esqueceste do trânsito, e que por momentos saíste do túnel e estás a conduzir um descapotável à beira mar, num dia de sol. E quando deres por ti, já saíste efectivamente do túnel, já chegaste ao destino, o mundo não acabou, sentes-te bem e disponível para te focares no compromisso, e chegaste exactamente à mesma hora que chegarias se tivesses passado todo esse tempo a stressar com o trânsito...
O que "te acontece", nem sempre é opcional. Mas a forma como aproveitas cada acontecimento é uma escolha tua.

Aproveita, o melhor que souberes, cada momento da tua vida. Atreve-te a dizer "Sou frequentemente egoísta." Desconfio que descobrirás que, curiosamente, quando te tornas sabiamente egoísta transformas-te numa pessoa muito melhor para todos os que te rodeiam.






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Este post foi escrito 2ª feira. Curiosamente, publiquei-o já depois da meia-noite, pelo que tem data de 3ª.
E digo curiosamente porque 3ª feira, justamente, recebi uma notícia daquelas que nos faz olhar de frente a nossa mortalidade. Releio o texto e penso três coisas:
- De facto, nada acontece por acaso.
- Isto faz cada vez mais sentido para mim.
- E fico feliz por perceber que já tinha esta consciência antes de ser confrontada com a minha própria mortalidade.
A vida é bestial!





Today, by MY book.



365 dias. Mais 365 dias.
Nesta altura, pelo menos estes 365 tomamos como garantidos. E não nos poupamos a clichés e metáforas:
Ano novo, vida nova! Novo capítulo. Um livro em branco, com 365 páginas por escrever.
E todos vamos mudar de vida! De esperanças renovadas e peito inflado de convicções e compromissos, todos vamos ser mais saudáveis, mais elegantes, mais amorosos, mais compreensivos, mais empenhados, mais audazes, mais felizes! Todos fazemos as nossas listas de resoluções que raramente chegam a soluções, ou como diz alguém que admiro, todos criamos listas de novos conflitos internos.
Um novo ano é sempre um novo início. A fresh start.

Esta passagem de ano perdi uma amiga.
Dos 365 dias que todos assumimos que teremos para criar uma vida nova, ela teve 2 horas.
Como acontece sempre que alguém que nos é querido vê a sua viagem interrompida demasiado cedo, a sua partida veio relembrar-me da importância de viver o Agora.
Que se forniquem as 365 páginas em branco, eu vou página a página! O Amanhã que espere por mim, porque eu vou viver o Hoje. E que se lixe o by the book, eu quero viver by my book.

Aqui me comprometo a viver, de ora em diante, e dia a dia, com esta consciência da arrogância que é tomarmos a vida como um direito adquirido.
Aqui me comprometo a agradecer todas as manhãs, ao abrir os olhos, o simples facto de os ter aberto, de estar cá, de me ser permitido continuar cá, e me ser dada a oportunidade de escrever mais uma página.
Farei por ser merecedora dessa benesse. Darei o meu melhor para que o meu livro seja uma fiel representação de quem sou. Quero orgulhar-me do livro que um dia vou deixar por cá. Quero que as pessoas que me são preciosas, ao folheá-lo depois da minha partida, encontrem as suas personagens em várias páginas, e sorriam com as nossas histórias.
Nem todos os capítulos serão inspiradores, poéticos, imaculados ou desenhados pela mais bela caligrafia. Haverá seguramente páginas rasuradas, mal escritas, com erros, amarrotadas, com a tinta borrada por água salgada. Haverá páginas mais preenchidas e outras mais vazias. Alguns parágrafos mais coloridos que outros. Umas quantas linhas menos felizes. Palavras feias aqui e ali. Que assim seja. Que no seu todo, eu esteja de facto impressa de forma incontornável, e que transpareça o que de melhor eu conseguir deixar e levar desta passagem, página a página.

***

Obrigada, querida Susana, minha "filhadinha". Foi uma honra ser a tua "madinha".
De ti guardarei o riso rasgado. Os doces deliciosos. O ar de miúda traquina. As diabruras. A candura. Os beijos na boca às amigas. O pino e os saltos para as cavalitas dos amigos. Os miminhos que fazias e levavas para cada um, em cada encontro. Sempre. O dedo espetado nos bolos e nos pratos de comida de todos os que tiveram o privilégio de partilhar contigo aqueles jantares que tanto amavas. Se para muitos de nós eles eram apenas mais uns momentos animados, sei que para ti eles eram uma verdadeira bênção, uma fuga da dureza da vida, que bem te soube fustigar. E naquelas horas, que diabos, tu divertias-te à grande e armazenavas a risota que te dava forças para os próximos tempos!
O dedo espetado nos bolos. É assim que me vou lembrar de ti.







10,9,8,7,...



Novos projectos e alguns desafios pessoais têm-me mantido afastada do meu cantinho.
Alguma preguiça também, confesso.
Traz-me de volta "aquela" altura do ano - reflexões, balanço do que foi, objectivos para o que será.

A preocupação de comer as doze passas sem me engasgar retira-me sempre alguma lucidez no momento de fazer os doze pedidos para o ano que está a nascer.
Achei por bem deixá-los aqui, para futura consulta, ainda longe da pressão das doze badaladas demasiado rápidas.
Claro que poderia, qual Miss Universo, desejar o fim da fome e a paz no mundo. E desejo.
Mas crendo que a mudança começa em cada um de nós, este ano desejo ser o melhor de mim, para dar o melhor de mim, e receber o melhor dos outros.

1) ACEITAR as minhas imperfeições e as dos outros.
2) RESPEITAR a minha verdade e todas as outras.
3) EVITAR julgar - a mim e aos outros. Tomar consciência quando o faço.
4) VALORIZAR a mim, aos outros, as conquistas, as alegrias, as pequenas bênçãos.
5) DESVALORIZAR o que não me traz nada de bom. O que não é realmente importante. O que não posso mudar. O julgamento dos outros. A ilusão de controlo. A seriedade excessiva.
6) AGARRAR as oportunidades. Ou criá-las. Arriscar. Acreditar. Investir.
7) ENCARAR os desafios. Avançar: bem ou mal, muito ou pouco - avançar. Sempre.
8) VIVER os meus valores e as minhas paixões.
9) PRIVILEGIAR os afectos e as emoções.
10) SENTIR. Seja o que for. Entregar-me. Vulnerabilizar-me. Continuar a preferir sofrer a não viver. E "aguentar-me comigo e com os comigos de mim", diria Fernando Pessoa. It's ok not to be ok. What's not ok is not to be. 
11) AGIR. Fazer acontecer. Porque sem acção o sonho não passa de sonho.
12) SER. Ser corpo, mente e espírito. Ser Espiritual, com todas as crenças (in)abaláveis e eternas dúvidas. Ser Humana, com toda a grandiosidade e fragilidade, com toda a sabedoria e ignorância, e todas as dualidades inerentes a esta condição efémera. Ser Mulher, em todo o seu esplendor, com toda a fascinante complexidade e simplicidade. Ser criança: viver o presente, saborear o momento, brincar, rir desmesuradamente, amar sem medo, ser pura e despudorada, espontânea e transparente, ser incansavelmente curiosa, ver tesouros no lixo, experimentar, tocar, abraçar, cantar, dançar, sorrir a um estranho, estar disponível e receptiva, chapinhar nas poças de água, beber água da chuva, descobrir novos mundos, inventá-los, lambusar-me de gelado no verão, passar horas no mar, derreter ao sol, fazer palermices só porque sim. Amar. E depois amar mais ainda.
Ser quem sou.

E nos dias em que tudo isto falhar, lembrar-me do primeiríssimo item da minha ambiciosa lista: aceitar as minhas imperfeições.

O MEU LEMA PARA 2014: