Liberta-te, porra!



Não me apetece escrever sobre a inigualável revolução, os homens de Abril, ou a liberdade de um povo. Muito menos me apetece fazer o contraponto com a realidade portuguesa, 39 anos depois.
Tomo a liberdade de falar, sim, de Liberdade.

"Liberdade, liberdade - porque fugiste de mim?"

Não, não foi ela que te fugiu. Pára lá de culpar os outros... Foste tu que a enterraste, lembras-te?
És tu que a soterras em convenções e proibições. Os grilhões, esses que acusas o mundo de te colocar, és tu quem os forja, no fogo do medo.
Afrouxa a gravata que te sufoca. Atreve-te a inspirar profundamente. Respira. Respira-te.
Despe a saia travada que te impede de dar passada. Atreve-te a dar um passo maior, confiante. Confia. Confia em ti!

A liberdade do povo tem de começar na liberdade do indivíduo. Na minha, na tua. Esta é a revolução necessária e urgente. Premente. Patente. Ela está aí. Abraça-a.
Tu que defendes com veemência direitos alienáveis, entende que fundamental, mesmo, é libertares-te de ti mesmo.
Liberta-te, porra!




A uni(ci)dade da laranja


A história das duas metades da laranja é bonita, é poética, mas eu não a compro. Uma metade mais uma metade, serão sempre duas metades.

O busílis da questão está nas palavras “completar” versus "complementar". Não busques quem te complete, mas quem te complemente. Duas laranjas têm muito mais sumo do que duas metades. - Ou, na versão romanceada, duas laranjas têm muito mais sumo do que uma.
Todos precisamos de outras laranjas para encher o jarro. O que devemos entender, é que não dependemos em absoluto de uma. Há muitas laranjas na laranjeira onde estamos, e muitas mais no imenso pomar de que fazemos parte. Dependeres da que está ao teu lado, acreditares que só és feliz enquanto estiverem as duas no mesmo ramo, é limitares-te e fragilizares-te a ponto de cair ao chão se ela apodrecer.

Repara, se a tua felicidade depende de um amor, uma família, uma carreira, uma casa, ou seja lá o que for que achas que te completa e te faz feliz, se essa metade te falta, ficas sem chão. Voltas a ser metade, e uma metade não sobrevive. Precisas rapidamente de encontrar outra metade (ou vários gomos, rodelas, o que for) que a substituam, pra voltares a respirar. Se fores inteiro, a estrutura abana, claro, mas não cai por terra.
O problema é que é muito mais difícil encontrarmos a nossa outra metade em nós mesmos. É uma caminhada a um, e a maior parte de nós não sabe estar sozinho, e confunde o estar só com solidão. Porque, lá está, no inicio da jornada, até te encontrares, sentes-te metade. Mas vale a pena aprenderes a caminhar sozinho; vale mesmo a pena descobrires-te - descobrires, aceitares e acarinhares a laranja completa que tu és. Vale mesmo a pena aprenderes a amar-te e seres feliz a sós contigo.
Depois vem a segunda parte do desafio, a meu ver mais difícil ainda: Entregares-te a quem te complementa, sem medo de te voltares a perder. Esse equilíbrio é extremamente difícil, porque depois de te solidificares, tens receio de deitar tudo a perder - não queres voltar a sentir-te uma metade. E amares alguém sem te perderes, sem te entregares, não faz sentido!
Acima de tudo, o equilíbrio estará em não ter medo de nos desiquilibrarmos de vez em quando. Ninguém é totalmente equilibrado se não deixar entrar o desequilíbrio na sua vida.

Nas palavras do sábio Ketut, em Comer, Orar e Amar:  Sometimes, to loose balance for love, is part of living balance in life".