A verdade, toda a verdade, e nada mais que a verdade



A tua verdade é o teu centro. Jamais encontrarás o teu centro fora de ti.
No fundo, esta é a base do teu bem estar. Sem identificares as tuas verdades não saberás quem és, andarás eternamente à deriva, e serás sempre um seguidor das verdades dos outros.


Numa discussão com um amigo sobre "a ordem natural das coisas", ele resolve contar-me um episódio ilustrativo: Quando mudara de casa, não tinha dinheiro para comprar uma aparelhagem "à séria". Então foi comprando CDs. Quando conseguiu comprar finalmente a aparelhagem dos seus sonhos, tinha uma colecção de 600 CDs.
Isto só aumentou o saudável debate, porque para mim aquilo era completamente absurdo! No lugar dele, eu teria comprado uma aparelhagem inferior para poder ir ouvindo os CDs que comprava, ou em vez de comprar CDs, teria juntado dinheiro para a aparelhagem dos meus sonhos. Aquilo apresentava-se-me como uma falta de lógica absoluta! Até porque ele continuaria a comprar CDs, e provavelmente acabaria por nunca ouvir os 600 que entretanto juntara!
Escusado será dizer que foi uma daquelas discussões em que acabámos por concordar em discordar. Qual de nós estava certo?! Os dois! Ele fez o que fazia sentido para ele, e eu teria feito o que me fizesse sentido.
Imaginemos que um amigo comum - um seguidor - se vê privado da sua aparelhagem e todos os CDs.
Ele ouviria as nossas duas versões, somava-lhes as opiniões de mais uns quantos amigos, e ficaria completamente perdido, sem saber qual a opção certa. Entregue à dúvida, nem aparelhagem nem CDs!

A indecisão inibe a acção. A incapacidade de reconheceres a tua verdade bloqueia-te; impede-te de agires. E a única coisa que importa perceber, é que não há uma opção certa; há a opção certa para ti. A resposta, só a encontrarás dentro de ti. Enquanto continuares à procura fora de ti, o mais provável é que aconteça uma de duas coisas: Ou a procuras só numa outra pessoa (namorada/o, irmã/o, amiga/o, Mestre,...) e adoptas a verdade dessa pessoa como tua; ou procuras aconselhar-te com todas as pessoas da tua confiança, e como cada uma terá a sua verdade, darás por ti preso em eternas dúvidas, a tentar perceber qual dos teus amigos estará certo.
Questionarmo-nos é positivo. Petrificarmos na infindável busca da resposta perfeita pode ser devastador. É que ela não existe... o que é perfeito para mim, não será para ti; e o que é perfeito hoje, deixará de o ser amanhã.

Eis algumas das minhas verdades sobre a minha verdade (daquelas que eu faço questão de me ir relembrando, nem que seja à força de bélinhas e beliscões):
  • A minha verdade é minha. - Ela serve-me a mim e só a mim. Ela faz-me feliz; não é uma fórmula universal de felicidade.
  • A minha verdade acompanhará a minha evolução. - Se eu sou um ser em constante transmutação, também a minha verdade mudará em função das minhas vivências e do meu crescimento.
  • Devo aceitar todas as minhas verdades, como parte integrante da grande verdade que sou Eu.
  • Posso e devo escutar as verdades dos outros, respeitá-las, e retirar delas o que me fizer sentido. 
  • Posso e devo partilhar as minhas verdades com os outros. Devo aceitar que os outros, tal como eu, só reterão das minhas verdades aquilo que lhes fizer sentido.
Isto pode ser mais complicado do que parece (daí que eu de vez em quando ainda tenha de me beliscar).
Mesmo para quem já tem alguma consciência do ego, do julgamento, do livre arbítrio; mesmo para quem já abdicou de ser dono da razão.
Ainda que movidos pela melhor das intenções, caímos frequentemente na tentação de impor a nossa verdade. Porque somos seres de afectos, e é muito difícil desapegarmo-nos completamente da "preocupação" com os que amamos. E se estamos bem e os vemos mal... a mente diz-nos que eles devem seguir as nossas pisadas, para que também eles fiquem bem. Um pouco como um pai financeiramente bem sucedido faz tudo para que o filho siga a sua profissão. Tudo em nome da felicidade de quem amamos!
Mas é aqui que tenho de fazer um esforço consciente para me lembrar das minhas verdades: "A minha verdade é minha. - Ela serve-me a mim. Ela faz-me feliz; não é uma fórmula universal de felicidade." É um erro tentar salvar os outros com a minha verdade. Ainda que bem intencionado, mas sempre um erro.


As minhas sugestões:

A ti, eterno angustiado:
Em caso de dúvida questiona-te: O que me faz sentido? Só quando conheceres as tuas verdades saberás quem és, e só aí saberás para onde ir. Até lá, continuarás paralisado, incapaz de agir, de concretizar, de viver. Pára de buscar orientação nos outros. Escuta-te. Não te deslumbres com a sabedoria alheia; a tua é-te tão ou mais valiosa. Só quando desistires de te perderes nos outros poderás encontrar-te em ti.

A ti, que já estás no teu caminho:
Lembra-te: esse é O TEU caminho. Dar a conhecer uma verdade é diferente de impô-la. E ajudar nem sempre implica mostrar caminhos; por vezes a melhor ajuda é simplesmente sairmos da frente, pararmos de atirar com as nossas arrogantes certezas, e deixarmos que o outro encontre o seu próprio trilho.
E aceitar que ele pode não escolher a direcção que se nós pudéssemos (ah, se pudéssemos!) escolheríamos para si.







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