Amo-te. Perdoa-me.


Não posso respirar por ti. Não posso querer viver por ti. Lamento, mas não posso. Ou já nem sei se lamento. Sei que não posso, nem pode ninguém.  
Já vivi demasiadas vezes a tua vida. Já deixei demasiadas vezes de viver a minha.
Entrego-te nas tuas mãos. Mesmo que isso me custe, te custe, e nos custe a tua vida. É uma jogada arriscada, eu sei. Mas o que temos de perceber, o que temos mesmo de conseguir perceber de uma vez por todas, é que é um risco teu; não me compete ir a jogo com as tuas cartas. Temos de o aceitar, e temos de arranjar forma de nos perdoar. Chega de bluffs.
Este meu querer, desesperado e impotente; este meu desejo de manter viva a tua vida, seja por amor, retribuição, premonição de culpas ou simplesmente por medo de te perder, não te traz de volta à vida. Só alimenta a ilusão que tu vives, enquanto vives através de mim. Já te perdi. Pior, já te perdeste.
O meu balão de oxigénio já não chega para manter duas vidas... e estou cansada de arrastar duas meias vidas. Faltam-me as forças, e (em verdade) a vontade de te forçar a querer o que eu queria que quisesses. É tempo de eu querer viver a minha vida. E é tempo de tu quereres... o que quiseres.
Desligo o botão. Corto o cordão umbilical. Não vou continuar a ser o teu suporte de vida. Não quero mais que suportes a vida à força do meu sopro. Quero que queiras viver. Quero muito que queiras viver. Mas não posso querer viver por ti.
Pérfido que te pareça, esta é a maior prova de amor que te posso dar: Liberto-te. Liberto-nos. É teu o poder de regressar a ti e a nós. Ou não. Amar-te-ei sempre.
Eu escolho viver. Com esperança que me perdoes e me ames por isso.




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