Nação do Lamento


Lamento - s.m. Acção de lamentar.
Expressão de pesar, de mágoa em face do infortúnio.
Pranto, queixa, gemido; lamentação.



O Lamento é inerente à condição humana.
Nesta meia dúzia de palmos de terra à beira-mar plantados, elevámo-lo a ícone Nacional, e como bons patriotas que somos, não falta quem seja orgulhosamente porta-estandarte. Acarinhamos profundamente o Lamento, e regra geral, todo o mal da humanidade acontece-nos a nós, e é causado pelos outros.
Até há um tempo atrás, isso ainda nos exigia alguma criatividade e jogo de cintura.
Tínhamos de conseguir toda uma panóplia de bons lamentos, sustentáveis, com um tempo de vida considerável, e ainda congeminar listagens de sujeitos, que podendo ser reais ou não, requeriam o perfil de vilão, para que as culpas atribuídas fossem inquestionáveis. Dava trabalho meus amigos. Além de todos já termos passado na vida por momentos em que descobrir um bom Lamento se torna uma verdadeira caça ao tesouro, também nem sempre é fácil tirar da cartola patifes a quem as culpas assentem de forma credível. Era um malabarismo que, para alguns membros desta família de 10 milhões, mais dedicados à arte do Lamento, quase se poderia equiparar a um emprego full-time.
A crise, em certa medida, tem sido uma bênção. Serve para tudo! Enquanto nos fornece um interminável e faustoso repasto de queixumes à descrição, é simultaneamente ela própria a grande e derradeira culpada de tudo. É o perfeito bicho papão de costas largas, um poço sem fundo, receptáculo infinito de angústias e desesperos.
Adoptámos pois, carinhosa e entusiasticamente, a crise como o novo bode expiatório para tudo o que sucede! No nosso mundo, no nosso país, no nosso (des)emprego, na nossa família, na nossa (falta de) saúde, na nossa casa, na nossa dispensa, na nossa cama, na nossa mente. É ela a verdadeira e única responsável por todos os nossos insucessos, sejam eles escolares ou profissionais, industriais, empresariais, pessoais, emocionais, sexuais e ais e ais e ais. Serve para tudo, digo-vos eu!...
E tem sido um ano riquíssimo de Lamentos. Estamos de barriga cheia.
A minha questão é… Quando nos explodirá a barriga???
É tempo de abandonarmos a esgotada lamentação que  nada produz, nada constrói, nada edifica, nada motiva, nada resolve… nada, mas rigorosamente nada nos traz de positivo, e abraçarmos uma postura que se adeqúe mais a este país de sol e céu azul, planícies de girassóis e vales de cortar a respiração, costas e encostas paradisíacas, iguarias inspiradas pelos deuses, descobridores e aventureiros, brilhantes cientistas e talentosíssimos artistas.
Deixemos o Fado aos fadistas...

21/10/2012

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